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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Crónicas de um jovem sem futuro (IX)

Rui C Pinto, 12.08.11

Há momentos que funcionam como cataclismo das nossas almas. E o que por aí vai de almas torcidas... Danadas pelo torcer! A violência dos últimos dias nas Brandoas, Odivelas e Pontinhas de Londres foi um desses momentos. É como se, subitamente, vissemos em imagens um qualquer espelho de uma realidade provável que nos pertence a todos. 

 

Ninguém fica indiferente a tais imagens de violência e destruição irracional. Há como perceber tais acontecimentos? Haverá muitas leituras. Tanto mais, que de entre tantos revoltados haverá poucos que se unam numa mesma motivação. E se o Luis Naves tem razão quando acusa a visão burguesa do Hugo Mendes, tem menos razão ao ler nas chamas de Londres o cataclismo anunciado da perda de valores da sociedade contemporânea, tanto mais quando lê nesta perda de valores a rebeldia perante a pobreza. Ahhhh... A pobreza digna e altiva retratada pela Casa Portuguesa de Amália... 

 

Há ainda uma esquerda que não sossega a euforia. No 5dias apela-se mesmo à violência e o ridículo pode ser sintetizado na comparação de Cameron a Mubarak. Ler a violência que se viveu nos subúrbios de Londres com a benevolência de revolta social já é um ultraje, compará-la às revoltas nos países do Magreb é demente! Não há revolta social no manifestar de frustrações consumistas de quem na sua maioria vive de contribuições sociais. Muito menos lhes pode ser desculpada a violência. Já há por ai muita esquerda a antecipar revoltas contra o capitalismo quando aqueles jovens o que mais anseiam é tomar parte dele... E de entre todas as leituras mais e menos eloquentes, esta mulher sintetiza em poucas palavras tanta verdade... 

As palavras desta mulher são o desabafo de quem, sentindo que há muito por reclamar, vê apenas injustiça numa destruição sem causa. Sejamos verdadeiros.

 

Há, no ocidente, razão para protesto, não vale a pena desviar a cara. A mobilidade social é cada vez mais difícil, o fosso entre ricos e pobres aumenta sem que os pobres aumentem o rendimento (tough luck, Tatcher!), e há cada vez mais pessoas que não partilham os benefícios do capitalismo. Estas premissas constituem um manifesto político que agregará muita da insatisfação que se vive no Ocidente e que será multiplicado pelos efeitos da austeridade que viveremos durante os próximos anos. Mas os efeitos da acção violenta dos jovens que pilharam os suburbios londrinos não reclamam estas ideias. Naqueles protestos participaram crianças desde os 11 anos!!! a jovens adultos com vinte e poucos anos. Os alvos das pilhagens foram ténis de marca, plasmas e consolas de jogos. Mas são homens! Não são leões nem jacarés, como teoriza o Helder Ferreira. São homens, imputáveis pelos seus crimes, não são bestas despersonalizadas sem lugar na ordem social pela escolha da barbárie e que lhes vede a convivência na polis... Já não há muros gregos para onde se possam exilar estas bestas invejosas, que vivem nas cidades próximas, num link que nos faz chegar o Ricardo Campelo de Magalhães. É claro que vivem em cidades próximas. Essas bestas somos nós. Nós tivemos Virgílio Ferreira, we should know better... 

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