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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Mais educação, menos sistema

Rui C Pinto, 22.08.11

Neste post do André Azevedo Alves tropecei na evidente prova de ineficácia do nosso sistema educativo: 

Este é apenas um caso e nenhuma realidade demasiado complexa dele deve ser extrapolada, tanto mais que este caso particular representa, por extremo, a incapacidade do sistema educativo lidar com o insucesso escolar. É muito fácil manifestar o choque com a óbvia incapacidade desta criança frequentar o 8º ano de escolaridade, mas não nos deve chocar menos perceber que o actual sistema é incapaz de gerar uma solução para esta criança. É fácil defender que este aluno deveria ter sido reprovado ano após ano e possivelmente frequentar a 2ª ou 3ª classe, mas será muito difícil defender que essa solução serviria o seu interesse. É evidente que esta criança não tem lugar no sistema e, prova disso, a única solução é excluí-la, promovendo a sua transição até que conclua a escolaridade obrigatória.
Este caso obrigou-me a recuperar uma entrevista de Isabel Alçada, à época Ministra da Educação, que considerei provocadora mas que trouxe, corajosamente, à discussão todo o modelo educativo. Vale a pena rever: 

É utópico ambicionar o fim dos chumbos? Não, utópico parece defender o chumbo como benefício à progressão do aluno. O argumento mais comum de quem rejeita a ideia do fim dos chumbos é o de que promoveria o facilitismo. Ora, o facilitismo é a única solução que o sistema actual dispõe para ajudar os alunos com insucesso escolar a concluir a escolaridade obrigatória. As famílias sabem-no. Um aluno com insucesso que reprove duas ou três vezes vê imediatamente facilitada a progressão até completar a escolaridade obrigatória, porque a sua frequência no sistema introduz ineficiência. 

É inevitável, a prazo, que se assuma a retenção como último recurso e apenas em casos onde há apoio por parte da família à semelhança do que já é feito lá fora. Este é o primeiro passo no combate ao facilitismo e às progressões administrativas. Mas não chega: o sistema terá necessariamente que evoluir da simples avaliação de conteúdos para a formação cívica e a aquisição de competências. Esta necessidade é muito reclamada no Ensino Superior onde os professores se queixam repetidamente da indisciplina dos alunos, das suas graves dificuldades em lógica e oratória.

 

O sistema de ensino actual é ineficaz. Limita-se a dar às crianças, durante 12 anos, conteúdos que muitas vezes lhes vêem a servir pouca utilidade. Por outro lado, não há qualquer esforço na sua educação para a vida em sociedade, para a integração cívica, para a prática de desportos ou hábitos preventivos de saúde, para fomentar a sua capacidade de expressão. Muito menos serve de aferição de competências na medida em que a única competência avaliada é a capacidade de memorização, como provou o aumento imediato das faltas como consequência da introdução das provas de recuperação. Perante a possibilidade de ver as suas faltas justificadas mediante a aprovação em exame de conteúdos, não surpreende que muitos desistam de frequentar as aulas, tanto mais que todos sabemos que uma franca percentagem de alunos recorre a explicações para colmatar as suas necessidades educativas.

O sistema actual não tem soluções para o insucesso e por isso investe num sistema penalizador, ainda que muitas vezes não se pergunte se essas penalizações servem de correctivo ou antes incentivo... 

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