A simetria é um conceito muito curioso e preponderante em ciência, sobretudo em Matemática, e que tem assumido relevância em todos os domínios científicos, nomeadamente através de um outro conceito dele decorrente: a quiralidade. De forma simplista, um objecto é quiral quando não é sobreponível com a sua imagem no espelho. Um caso simples de quiralidade está nas nossas mãos: a mão esquerda representa a imagem no espelho da mão direita. Por muito que tente rodar a sua mão esquerda não conseguirá sobrepô-la à direita, porque elas são a imagem no espelho uma da outra. Então, as mãos são enantiomorfos (formas opostas, do grego enantio=oposto; morfos=formas). Se um objecto é quiral, possui sempre dois enantiomorfos.
Em química e biologia a quiralidade é fundamental: toda a bioquímica da vida é quiral. Uma molécula desempenha a sua regular função na célula mas o seu enanteómero (a sua molécula oposta) não só não possui actividade como muitas vezes causa danos graves ao funcionamento da célula. Este facto levou a que a teoria evolutiva assumisse a quiralidade como uma etapa evolutiva anterior à própria célula.
Este conceito tem sido aplicado aos desenvolvimentos recentes do modelo quântico, onde se fala de quiralidade e helicidade das partículas que constituem o átomo. De facto, o próprio electrão é hoje considerado quiral e possui um enantiomorfo de carga oposta de nome anti-electrão sendo as partículas discriminadas pela natureza. Esta transversalidade do conceito de quiralidade não é surpreendente na medida em que parece ser uma consequência geométrica. Porém, não deixa de ser curioso que toda a acção humana e a sua capacidade intelectual tenda a construir conceitos quirais resultando o seu regular processo de decisão da consciente selecção entre os seus enantiomorfos. Não deixa de ser interessante questionar se a inteligência humana é, ou não, quiral.