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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Crónicas de um jovem sem futuro (XI)

Rui C Pinto, 21.09.11

O TGV foi, desde o início da sua discussão, uma evidente alucinação colectiva, consequência da nossa eterna quest em busca da prosperidade fácil. Vai ser difícil o desmame deste vício, expoente máximo da nossa falta de estratégia nacional. 

 

A ver se me faço entender. Durante quatro anos fomos bombardeados com a propaganda política de que o TGV seria a solução para os nossos males. Ora, esta lógica não é novidade. Esta é exactamente a mesma lógica que, nas últimas três décadas, nos convenceu que as auto-estradas seriam o motor de desenvolvimento da economia e levou a que sejamos hoje o país com o maior número de quilómetros de auto-estrada per capita na Europa. A lógica do TGV tinha, desde o início, premissas que desafiavam a lógica. E nem estou a falar do custo de construção! Estou a falar do custo de manutenção e exploração. Estou a falar do absurdo do preço do bilhete para uma deslocação de Lisboa a Madrid que competiria apenas com o veículo pessoal. Estou a falar do absurdo do argumento de ligação à Europa, quando a competitividade deste meio de transporte tem um alcance, no máximo dos máximos, de 1000km (na prática significa 6h de viagem entre Lisboa e Barcelona!!!!!!!!!!). A ideia de que Portugal ficará fora da ligação à Europa é tão cretina que não resiste ao facto de a linha de alta velocidade espanhola não estar ligada à alta velocidade francesa e os projectos de ligação esbarrarem no facto de os comboios espanhóis não operarem na voltagem usada em França. Que significa isto? Que por muito que a política mova montanhas, ainda não consegue fazer mover os comboios espanhóis a voltagens que não suportam e, portanto, o utente que queira viajar de Lisboa a Paris em alta velocidade, num hipotético futuro, terá sempre que trocar de comboio a meio da viagem.

 

Mas este post é sobre a opção de fundo. A miragem das auto-estradas acabou. O Zé já percebeu que elas lhe dão jeito mas não lhe põem dinheiro no bolso, antes pelo contrário... E com bolsos vazios, não se aproveitam os benefícios das auto-estradas... Então, o espírito de planeamento do grandioso futuro português virou-se para a alta-velocidade. A alta-velocidade é a derradeira necessidade de modernização de infra-estruturas que nos trará a competitividade necessária ao crescimento económico. Diz o Daniel Oliveira que é inevitável para um país que vive do turismo como principal fonte de rendimento! Ora, claro está! Está bom de ver que os mercados de turismo que atraímos, nomeadamente o inglês e alemão virão em barda de TGV para o Algarve, perdendo um dia de férias para cá e outro para lá. Na sua habitual semana de férias, terão todo o gosto em queimar dois dias no agradável conforto do trânsito que lhes custará o equivalente a toda a semana em regime de all inclusive na República Dominicana (já incluindo o preço do charter...). Daniel Oliveira é, no fundo, um dos mais acérrimos defensores da política de betão iniciada por Cavaco Silva na pretensa busca pela prosperidade imediata. Daí não vem mal nenhum, o que não falta aí são cavaquistas. Isto é um vício instalado, e como já disse, o desmame será doloroso.

 

É fundamental, de uma vez por todas, abandonar este modelo de desenvolvimento económico baseado em infra-estrutura de transportes. O TGV não é solução nenhuma para o país. Não é o el dorado do crescimento económico e só contribuirá para que se mantenha o povo iludido que o crescimento económico é algo que não depende do trabalho, competência, esforço e inteligência de cada um. Por cada minuto que se vender a ideia de que o crescimento económico chegará à estação de Oriente a alta-velocidade, um jovem português qualificado e em idade de contribuir para a Segurança Social sairá do país à procura de trabalho. E não, não vão construir linhas de TGV... 

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