"Subitamente, a Europa fala alemão"
Disse-o Volker Kauder, líder parlamentar da CDU. Kauder sintetiza, assim, a posição europeia em relação à crise. A causa da crise europeia foi a indisciplina orçamental e, portanto, a solução é a austeridade. Que subitamente a Europa fala alemão não tenho dúvida, mas se a Europa pensa alemão já não tenho tanta certeza...
Mas a Europa ainda não é unilingue. E por isso, o Reino Unido merece a atenção dos alemães: como membro da UE o Reino Unido "também carrega a responsabilidade para o sucesso da Europa", diz Kauder. "Olhando apenas aos seus interesses e não estarem preparados para contribuir é uma menssagem que não podemos aceitar dos britânicos." Estas palavras são provocadas pela oposição de Londres à taxa sobre transacções financeiras proposta por Berlim. Kauder afirma mesmo que percebe que um país como o Reino Unido cuja economia depende em 30% do centro financeiro londrino esteja relutante em aceitar tal taxa, mas que mesmo que continuem a resistir os 17 estados membros do Euro a introduzirão. O discurso começa a endurecer na União.
O populismo destas palavras deve preocupar-nos, sobretudo no momento em que a Alemanha vem engrossando a voz à medida que a crise lhe dá poder sobre a economia europeia. Não há qualquer surpresa no facto de o Reino Unido defender a sua praça financeira, tal como não há qualquer surpresa na estratégia alemã para a resolução da crise na perifeira do euro. A economia alemã está com saúde e recomenda-se. Cresce mais que o esperado, cria emprego e aumenta salários. A contracção económica por via da austeridade na periferia europeia cria oportunidades à Alemanha que não só estará disponível para aquisições a preço de saldo em importantes sectores estratégicos como a energia como já se despunha, em Janeiro deste ano, a receber os jovens qualificados dos países em difculdade para alimentar o seu mercado de trabalho expansionista... Não sejamos ingénuos. A Alemanha está, tal como o Reino Unido, a zelar pelos seus interesses.
É por isso que, nesta altura em particular, o preço que Van Rompuy afirma ser necessário pagar para estabilizar a zona euro me parece muito caro... Diz Rompuy que o preço a pagar é a concentração de soberania em Bruxelas. Ora, se a transferência de soberania for transversal aos estados membros e implicar o escrutínio democrático do exercício dessa soberania por todos os europeus eu aplaudo de pé. Mas para isso, Van Rompuy terá sobretudo de convencer os 80 milhões de alemães que vêm a sua economia crescer no meio de uma profunda crise europeia que precisam transferir soberania da sua amada constituição para Bruxelas... Bonne chance, Rompuy!
(publicado em simultâneo no Forte Apache)