Are you talking to me?
Ontem houve reunião do Conselho Nacional do PSD que contou inevitavelmente com a presença do Presidente do Partido, simultaneamente Primeiro-ministro. Usou da palavra durante cerca de 35 minutos, justificando minuciosamente as medidas de austeridade tomadas nos últimos meses com a necessidade de construir um bote salva-vidas para o próximo ano.
Estava perante uma plateia composta por altos representantes do seu partido, militantes de uma estrutura política reformista, cidadãos pagadores de impostos que não questionam a urgência do controlo orçamental. Mesmo assim, Passos Coelho sentiu a necessidade de explicar com elevado nível de detalhe o contexto do seu trabalho. E daí não vem mal, é essa uma das suas obrigações! O problema reside no facto desta qualificada audiência precisar verdadeiramente de esclarecimentos, de não compreender a dificuldade do Governo em explicar as opções do Orçamento, de justificar politicamente certas medidas tomadas que sob a análise dos tecnocratas, poderiam ter sido construídas de formato diferente. Não consegue assimilar o embaraço constante, os momentos constrangedores, as palavras abertas a múltiplas interpretações, a ausência de diálogo com a população à partida fácil de conquistar, tradicionalmente passiva e amorfa.
Passos Coelho quis elevar o debate político durante a campanha eleitoral, estimular a confiança nos políticos, acabar com os artificialismos, mas agora a fasquia está alta e as pessoas críticas e insatisfeitas sobretudo por não saberem o que se está a passar, mais do que com os cortes que vão sofrer.
Não é preciso chorar na derradeira conferência de imprensa, mas alguém vai ter de por fim ao silêncio antes dos eleitores e militantes porem fim ao estado de graça.