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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Um acordo que não serve para nada

Rui C Pinto, 17.01.12

Nunca a CGTP teve tanta razão. Propor, na prática, mais sete dias de trabalho à borla é, no mínimo, um ataque óbvio a quem produz valor neste país. O país vai, mais uma vez, assobiar para o lado e fazer de conta que resolve os seus problemas. Quem, em sua consciência, pode dizer que em Portugal os trabalhadores ganham mais do que merecem? Como é que um país de salários miseráveis pode admitir que se apresente como solução para a saída da crise a redução real dos salários? 

 

A solução para a crise é que a Maria de Fátima que trabalha na fábrica de peúgas de Famalicão trabalhe mais 4, 7, 20, 40 dias/ano pelo mesmo salário minimo? É esta a solução para a crise? Este é, claramente, o caminho da desvalorização dos salários e está aberto o caminho para uma economia de mão de obra barata. Talvez por isso se admita que a única solução para os jovens qualificados seja a emigração.

 

Eu sei que a flexibilização do mercado de trabalho estava prevista no memorando da troika e que era preciso fazer alguma coisa para por a economia a crescer. Mas não é esta, obviamente, a solução. Só alguém muito desligado da realidade ou muito iludido na sua ideologia política pode pensar que o país vais crescer obrigando quem já ganha mal a trabalhar mais pela mesma miséria enquanto paga mais cuidados por cuidados de saúde, de educação, de passes de transporte, de alimentação, etc., etc., etc. Receio que este acordo em sede de concertação social seja o primeiro tiro nos pés deste governo pela simples razão que transfere capital político de reivindicação à esquerda. 

 

Todos nós andamos a dizer, há anos, que é preciso reformar a economia portuguesa. Todos sabemos, há anos, que essa reforma é essencial para a sobrevivência económica do Estado Social. Todos sabemos que é irrealista manter o Serviço Nacional de Saúde, educação gratuita, ensino universitário a propinas mínimas, se continuarmos a competir em sectores produtivos assentes em mão de obra barata porque não temos como competir com os mercados emergentes. Estamos todos fartos de discutir este assunto. Para tal é preciso inundar a economia de crédito. Para tal, é preciso credibilizar o país junto de quem empresta dinheiro. Tudo o que se pede ao governo do país é que mantenha as contas públicas em ordem e que de caminho reforme a administração pública e os serviços públicos por forma a que consumam menos recursos à economia, vulgo impostos. Assim, é mais importante que o Estado reduza o seu peso e os seus gastos por forma a reduzir os impostos às empresas que sobrecarregar os trabalhadores com o preço da ineficiência da economia provocada por um Estado despesista e desmesurado. 

 

Este acordo é um erro político. É puro faz de conta que apenas capitaliza a contestação social à esquerda. Lembremo-nos todos os dias que o problema da economia portuguesa não é ganhar-se demais, o problema é gastar-se demais! 

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