As Aventuras de Tintin no Tribunal
Saiu agora a decisão do tribunal sobre o caso, dando vitória à editora dos livros de aventura e a entidade que possui os direitos de autor por considerar impossível de provar que Hergé teria de facto pretensões racistas. Era apenas um homem inserido num contexto colonial, de paternalismo por culturas que, por ignorância, eram consideradas inferiores e onde injustiças foram de facto cometidas, mas era esse o pensamento da época e o autor apenas repete-o.
Segundo o incentivador do movimento, este livro como tantos outros poderão moldar o pensamento das crianças para sempre e ajudar a que determinados estereótipos perdurem. As personagens congolesas, que não sabem falar francês e se comportam passivamente perante a agressividade do colonizador são incompatíveis com o orgulho nacionalista que este congolês tem direito de manifestar.
Admito que no meu primeiro texto sobre o tema possa ter sido demasiado radical a defender Hergé (sou uma fã confessa), agora adopto a ideia de introduzir uma nota introdutória que explique o contexto das polémicas representações. Só gostava que fossemos tão cuidadosos em tudo, que não separássemos árabes de ocidentais nas barreiras de segurança dos aeroportos, que não continuássemos a eleger inimigos mundiais, a espalhar o pânico e a fomentar a cultura do medo que entorpece crianças e adultos, congoleses e belgas.
No fundo, Hergé (falecido) e o seu Tintin (personagem ficcional) são os bodes expiatórios perfeitos. Sofrem agora com os radicalismos de um mundo desequilibrado, que vai escapando da incompetência com que trata os verdadeiros assuntos através destes fait-divers, tal como um gato a fugir por entre as pingas da chuva.