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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Escolhas e sacrifícios

Essi Silva, 09.09.12
Os meus últimos dias de férias foram pouco descansados. O anuncio da nova medida de austeridade adoptada pelo actual Governo, anunciada por Passos Coelho, tem deixado todos num pânico compreensível. Desde as redes sociais, através dos media, até à rua, clama-se por revolução, por desobediência civil, enfim, por mudança.
Quando o actual Primeiro-Ministro, que, ajudei a eleger, se candidatou prometendo mudança, acreditei. Não pela pessoa que é, mas porque a alternativa não era nenhuma. Nunca fui passista. Fiz duras criticas à pessoa que é o líder do meu partido, apontando que o seu programa não era suficiente. Nos primeiros dias de mandato, pensei ainda que o rumo do país poderia ser invertido. Não acredito mais nessa premissa.

Passos Coelho comprometeu-se a seguir o programa da Troika, deixado em testamento pelo seu antecessor. Comprometeu-se também a cumprir o Orçamento de Estado. Portugal estava numa crise, urgia contornar a direcção que o país tomava. Cortar as gorduras do Estado e se isso não fosse suficiente, pedir ajuda ao cidadão.
Os portugueses que fazem parte da função pública, uma fatia substancial da nossa população, engoliram a custo perderem os subsídios de férias e Natal, mas no fim do dia aceitaram.

Todos sabemos que a herança que foi deixada ao actual Governo, foi pesada e de um passivo substancial. Ninguém (ou quase ninguém) se queixou ou interrogou, quando José Sócrates, sorridente, prometeu tudo, garantiu que o país estava são e seguro e ofereceu subsídios e computadores à custa do contribuinte. Fomos avisados por Manuela Ferreira Leite, que embora com os seus defeitos, explicou o que aí viria. Ninguém a quis ouvir. Também não quis ter Passos por perto, nem fazer parte do seu plano de salvação, coisa que agora até compreendo um pouco melhor.

Confiei neste Governo, mesmo tendo as minhas suspeitas. Mas o que se adivinha que o povo português passe, é um ultraje.
Para contornar a decisão do Tribunal Constitucional, vamos todos pagar. Uns mais do que outros, mas no fim do dia, tanto o trabalhador do publico, como o do privado paga.
Não haverá Economia que resista, PME's que sobrevivam. Veremos provavelmente famílias inteiras no desemprego (porque não os esqueçamos que muitas das PME'S são familiares), uma classe média dilacerada e sem poder de compra. E o Estado? Continua gordo. Continua pesado e na mesma.

Não é que eu ache que esta medida seja um completo disparate. O que me choca, sim, é que se faca parecer como a única alternativa possível. É suposto eu acreditar que num ano o Governo não consegue fazer melhor que asfixiar mais o cidadão e as empresas com mais contribuições? Que não há mais para cortar na Administração?

Lá por não chamarem imposto a algo, não quer dizer que não seja, na realidade um. (E o Tribunal Consitucional está cheio de casos desses.)
Especialmente quando, ao que parece, será acompanhado por mais contribuições. Grave também, já que muitas individualidades propuseram que se apresentasse a factura a quem mais tem, ao invés de quem luta para (sobre)viver. É que não é suposto passar-se uma vida a trabalhar, para no fim do mês contar trocos para pagar os livros, o médico ou a renda/prestação da casa. (e ficar em pânico porque as moedas não chegam)

E bem sei que Economia não é a minha especialidade, mas lembro-me de uma explicação do Prof. César das Neves, que consistia na premissa, que há um momento em que o imposto/contribuição é tão elevada, que se torna insustentável, estagnando (ou invertendo) não só a economia (no sentido de poder de compra), como a receita desse mesmo imposto por parte do Estado.

Há empresas que já não conseguem fazer face às dificuldades, cidadãos que não conseguem equilibrar o seu orçamento, tão simplesmente porque o Estado não é de confiança. Mas a culpa não é sua, porque mesmo quem não tem dividas, está a enfrentar duras dificuldades. Esta medida não é uma tragédia, mas é gravosa e pesada.

Esperava mais de um governo de Mudança. Não são responsáveis pelo passado, mas serão pelo futuro. Mas como já começa a ser uma constante nas ultimas décadas, as palavras, levam-nas o vento.
Que Portugal restará para as gerações vindouras?


[No que toca à contestação, esta não deveria ser feita agora, mas há muito tempo atrás. Se os outros tivessem feito bem o seu trabalho, não estaríamos nesta situação agora, não é?]

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