de "bom aluno" a país ingovernável?
o actual governo foi eleito para aplicar medidas de correção das contas públicas por forma a garantir o financiamento da economia. os credores têm assim uma garantia de que os seus empréstimos serão pagos e, em última análise, voltarão a confiar e financiar o país.
até sexta feira passada, Portugal era dado como um caso de sucesso europeu. o exemplo de um país que reuniu consenso político e social em torno de um programa de ajustamento financeiro para recuperar credibilidade junto dos seus credores. num ano foi possível reunir consenso entre os partidos políticos do arco da governação e entre os parceiros sociais. políticos, sindicalistas e empresários permitiram manter a paz social. éramos, por isso, um exemplo. e esse era o nosso maior activo político perante os parceiros europeus e as instituições que nos financiam.
na sexta feira passada o governo desbaratou o maior activo político que detinha por uma medida que assumiu como sua, que representa uma mísera receita de 500 M€, e que conseguiu reunir a oposição de todo o país. uma vez mais o consenso de políticos, economistas, sindicalistas e patrões, porém, desta feita, contra o governo. notável.
o anúncio de sexta feira mergulhou a coligação governamental numa crise política gravosa para o país e uniu a oposição, permitindo ao PS desvincular-se do acordo político em torno do memorando da troika. ao assumir a baixa da TSU como uma medida sua, Passos permitiu a Seguro chumbar o orçamento de estado. uma infantilidade política que, naturalmente, desagrada a Portas e ao CDS.
mas não foi apenas o apoio popular que o governo perdeu na sexta feira. foi, também, o argumento da falta de alternativa política. ao assumir como sua a medida do aumento da TSU para os trabalhadores e a descida para as empresas por forma a aumentar a competitividade das empresas, abriu a porta à discussão política. argumentar agora que não há alternativa política ao orçamento do próximo ano é uma imbecilidade e um tique autoritário de quem receia o debate por falta de preparação. quem toma uma medida desta gravidade tem de estar preparado para debatê-la e defendê-la perante a opinião pública.
hoje, o povo está na rua de uma forma muito expressiva. as imagens aéreas que as televisões difundiram são claras. o mar de gente que aderiu a esta demonstração de indignação está para lá da capacidade de mobilização de partidos ou sindicatos. resta a Passos Coelho recuar. bem sei que está convencido de que não deve governar para agradar à população, li essas declarações infelizes num jornal qualquer. mas que não tenha a ilusão de que pode governar contra as pessoas. se tiver essa ilusão, ficará para a história como o primeiro ministro que transformou um "bom aluno" num país ingovernável, à semelhança da Grécia.