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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Pensando a Arte do Compromisso

Miguel Nunes Silva, 06.01.13

'Os políticos são todos iguais'

'Os políticos são todos corruptos'

 

Todos nós já ouvimos estes 'aforismos'. São típicos de sociedades aonde o civismo é pobre. Toda a sociedade Portuguesa é corrupta, mas só os políticos são alvos de generalizações. Para além do mediatismo, vale a pena perguntar 'Porquê'. Aqui sim reside o busílis.

 

Não sendo a pessoa mais qualificada para falar sobre estas questões neste blogue, acrescentarei a minha pitada:

 

As razões para se entrar na política variam mas seja qual for a razão principal, cedo se compreende que há oportunidades na política. Perante isto cada indivíduo tem que tomar uma decisão sobre quão longe está disposto a ir, quanto está disposto a sacrificar por essas oportunidades (que podem ir desde cargos à simples fama). Precisamente porque a política é a arte do compromisso, o equilíbrio entre autenticidade e pragmatismo é complexo.

 

As jotas têm má fama porque introduzem esta realidade muito mais cedo para os seus membros. Assim, ao contrário do resto da sociedade que progride na vida profissional antes de obter oportunidades na política, muitos jotas há que enveredam pelo caminho do compromisso para obter favor profissional.

Ser-se jota no entanto, acarreta consequências tanto boas como más. A vida política introduz um nível de maturidade e experiência que poucos em Portugal têm. Improvisar e trabalhar sob pressão ajudam muito a construir carácter e claro que quem leva uma vida política desenvolve conhecimentos sobre, e contactos no, 'sistema' em Portugal. Claro que também desencaminha muitos outros para percursos de fraude e oportunismo - e aqui infelizmente, o factor da tenra idade de muitos jotas, ajuda a que o sistema das jotas perpetue as suas próprias perversões, pois aquilo que deveria ser uma formação, transforma-se em muitos casos numa educação.

 

Assim, embora os políticos no geral enfrentem o dilema pragmatismo/autenticidade e façam boas e más opções, os políticos oriundos das jotas têm por vezes a propensão a optarem mais frequentemente pelo pragmatismo. 

 

Numa sociedade católica infestada por tabus, politicamente correctos e hipocrisias, uma certa dose de pragmatismo é sempre bem vinda e quem não sabe entrar em compromisso não sabe governar pois qualquer governante tem que compreender que as suas opiniões não podem ser absolutas. Dito isto, o pragmatismo actua por vezes como uma droga pois muitos há que entram no circulo vicioso e se deixam perder.

 

Talvez o mais óbvio dilema pragmatismo/autenticidade, e aquele mais frequentemente invocado dentro das próprias jotas, é o da escolha entre cargo e ideologia. 

 

Todas as crianças crescem a reclamar o que é seu: seja comida ou brinquedos. Assim, quando ingressamos na escola a reacção natural a divergências de opinião é a teima. A escola, as jotas e a política no geral força-nos a considerar a opinião dos outros. A política é especialmente importante porque ao contrário da escola e da arte, aonde o individualismo ainda pode e deve imperar, a política só traz sucesso quando este sucesso é colectivo. Os cargos e a fama são fruto exclusivo da acção de grupos - através de eleições - e como tal, o conformismo à dinâmica de grupo é essencial para o sucesso.

 

O problema surge mais tarde quando há que lidar com as consequências do compromisso pragmático, pois se a autenticidade se perder por completo, a única opção aberta é a de entrar num compromisso com um grupo diferente e voltar a reclamar alguma autenticidade e valor. Mas a táctica do compromisso é um caminho potencialmente infinito de lealdades opacas.

 

Por conseguinte, uma boa maneira de verificar a respeitabilidade de um político seria testar a sua coerência política porém, para se defenderem os políticos desenvolveram uma contra-medida: o centrismo. Quanto mais ideologicamente radical maior o risco de se encontrar em contradição quando o compromisso político é feito. Logo a maior parte dos políticos não arrisca e prefere apresentar-se publicamente com posições diplomáticas sobre dilemas polémicos.

 

Por conseguinte, se quiserem saber quem é menos fiável a nível político, olhem para a facção mais moderada do espectro político de um partido. Porque são por inerência fracos em fiabilidade ideológica, são frequentemente também os mais populistas do partido: aqueles mais dados a adoptar posições morais e a movimentarem-se em numerosos círculos políticos e profissionais. Posições morais porque o que é moral, é politicamente correcto, e portanto socialmente consensual; sendo também mais passível de discursos inflamatórios sobre nulidades. Numerosos círculos porque a mais-valia do compromisso se verifica tanto mais, quanto maior número de círculos entre os quais agir como intermediário - o 'contacto' tornando-se mais importante que a causa original.

 

Concluindo podemos dizer que os políticos se posicionam sempre algures no espectro-trilema seguinte. Têm que se preocupar com a sua ideologia sem serem fanáticos, com notoriedade sem serem populistas, com lucro e sucesso pessoal sem se tornarem corruptos.

 

 

 

 

 

                                                                                      

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