Pepa e a verdadeira crise portuguesa
Todos conhecem a recente história da “Pepa” por isso poupo-me a introitos.
Sim, a gaiata tem uma voz afetada e isso foi natural motivo de gozo. Tal como gozamos com o fanhoso, o zarolho, o tetraplégico: é que Deus castiga se não encontrarmos motivos para zombar das vicissitudes alheias.
Mas não foi essa a principal causa da chuva de críticas ao anúncio.
O problema é que um dos desejos de Pepa para 2013 é uma mala que custa caro. E não interessou a ninguém que ela a pensa pagar amealhando aos poucos. Não, o que interessou é que a Samsung preferiu dar voz a quem quer uma mala e não a quem quer uma lata de atum.
“Quem nasceu para dez tostões, não chega a conto de reis”, diz o povo. Quer isto dizer que quem sonha baixo, não voa alto. Ou que quem pensa pequenino nunca chegará a grande.
No futebol diz-se: quem não marca sofre.
Na realidade, os portugueses não ficaram ofendidos porque Pepa queria um produto consumista em tempo de crise: os portugueses melindraram-se porque são mesquinhos, invejosos e não conseguem admitir que haja gente optimista e que possa ter sonhos inatingíveis para a maioria.
Enquanto estivermos mais preocupados nos sonhos, projetos e conquistas dos outros, mais atrasamos a marcha das nossas próprias vitórias.
É por isso que estamos permanentemente em crise: ocupamo-nos demasiado com a vida dos outros, a nossa não nos chega!
É por isso que uns palermas se melindram quando veem o Primeiro-Ministro sorridente em tempos de crise, ou quando uma miúda quer uma mala.
A SIC entrevistou a famosa Pepa e perguntou-lhe se ela se arrependia. A resposta foi sublime. Se bem me lembro, disse algo como “apesar de tudo, não me arrependo: o meu desejo foi honesto, verdadeiro e legítimo”.
Se o povo for inteligente, percebe a chapada de luva branca.