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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Lições da relatividade de Einstein

Rui C Pinto, 27.10.11

Einstein deixou um trabalho filosófico extenso nas suas fórmulas científicas. Muitas dessas fórmulas complementam-se nas de Heisenberg, Bohr, ou Schrödinger. Mas todas estas fórmulas serviram, para a geração de físicos dos anos 30 do século passado introduzirem nos modelos científicos clássicos os princípios da incerteza e da relatividade.

 

O que quer isto dizer?

Que Newton definiu as leis clássicas da física baseado no facto de uma maçã lhe ter caído na cabeça. Dois séculos mais tarde, Einstein percebeu que dependendo da forma como se olha para a maçã e para Newton, tanto podia ser a maçã a cair na direcção da cabeça de Newton, como podia ser a cabeça de Newton a cair na direcção da maçã. Isto é, tudo depende do referencial do observador.

 

Também o discurso político deve obedecer à relatividade do referencial com que se analiza a realidade. É esta a principal lacuna do discurso político conservador: tem absoluta necessidade de ler o mundo de acordo com um referencial por forma a construir realidades dialécticas: bem vs. mal; trabalhador vs. preguiçoso; impostos vs. liberdade. Este é o seu principal trunfo na mobilização do seu eleitorado, mas é o seu principal calcanhar de Aquiles pois leva inerentemente a leituras erradas da realidade. Este é o discurso do Tea Party e do Flea Party. Há alguma ideia construtiva que tenha saído de qualquer um dos movimentos, pergunto eu? O discurso de ambos os movimentos limita-se a diabolizar o opositor. O Tea Party diaboliza Obama e os impostos e o Flea Party diaboliza Wall Street e o capitalismo. Isto leva a que se vejam pensionistas empunhando cartazes contra a Segurança Social e jovens protestando contra o capitalismo enquanto tiram fotos do seu iPhone. 

 

O mundo não é a preto ou branco. O mundo é feito de tons de cinzento.

 

Quando temos um saco de dinheiro para distribuir por meia dúzia de pessoas e criamos regras para promover essa distribuição estamos inevitavelmente a criar assimetrias na distribuição. Privilegiamos sempre uns em detrimento de outros. A única forma de legitimar essa distribuição é manter todos minimamente satisfeitos. É o que se passa hoje. Há óbvios motivos de descontentamento em relação a Wall Street e às práticas que desencadearam a actual crise financeira. É por demais óbvio que a factura da crise actual só será paga pacificamente se for equitativamente paga por todos. O discurso de que quem protesta devia mas era ir trabalhar é, no máximo, um piropo. É absolutamente natural que haja indignação e, sobretudo, legitimo. Não quer dizer que partilhe das soluções que os "indignados" propõem, ou das suas formas de protesto. Quer dizer que comungo, com eles, alguns dos motivos que os levam a protestar.

Onde está o Wally?

Elsa Picão, 26.10.11

 

 

 

As fundações da União Europeia assentam sobre ideias e valores. Estes valores reconhecidos como fundamentais, e ultimamente um pouco esquecidos, incluem a garantia de paz duradoura, unidade, igualdade, liberdade, segurança e solidariedade.

A solidariedade entre Estados Membros presente em todo o processo de integração europeia pressupõe, penso eu, a partilha das vantagens da pertença ao espaço comum, como a prosperidade, mas também a partilha dos encargos entre os Membros. Esta manhã, mais uma vez, ao ler as noticias sobre a possível falta de acordo e o impasse à volta da Cimeira, voltei a perguntar-me onde está? Onde está a solidariedade como valor fundamental do processo de construção e integração europeia? 

Coligação!

Diogo Agostinho, 25.10.11

 

Hoje somos governados por uma coligação. Sim. Leu bem. Coligação de dois partidos. Dois partidos de Centro-Direita, que desde há muitos anos se entendem quer a nível governamental, quer a nível local em inúmeras câmaras do país. Uma receita que se tem verificado positiva para as populações. Em primeiro lugar tem sido sempre garante de estabilidade, em segundo garante na maior parte das vezes de competência.

 

Porém, no momento que Portugal atravessa assistimos a pequenas alterações que não nos podem ficar indiferentes. Paulo Portas foi Ministro da Defesa de Durão Barroso e Santana Lopes. Teve um comportamento exemplar e com a sua pose de estado não comprometeu a coligação. A sintonia era notória e a solidariedade evidente.

 

Hoje, como diria o ex-Primeiro-Ministro, o mundo mudou. E Portas, é actualmente o líder partidário com mais anos de poder. Permite-lhe desde logo uma notoriedade maior e uma experiência inequívoca, para perceber que também mudou.

 

Só os burros não mudam, costuma-se dizer. Hoje temos uma coligação diria que...sui generis. Assisti a uma constituição de governo com claras mais valias para o CDS do que para o PSD. Bem sei que não é tempo de contar espingardas, que devemos querer é trabalhar para ajudar o País.

Sei isso tudo e concordo. Mas aqui vai apenas e só uma análise política e sobretudo dizer o que oiço por aí e de muita gente. Basta olhar para a constituição do Governo, vemos que o trabalho político do CDS foi bem feito. Desde logo pela “libertação” de Paulo Portas das medidas difíceis. Sabe tão bem estar em Londres numa feira de promoção com bandeirinha na lapela, quando o comparsa de Governo anuncia mais um corte nos funcionários públicos. E se sabe bem. Sabe tão bem olhar para o parceiro cada vez mais velho, e andar a passear pelas ruas de Nova Iorque, a conhecer delegações nas Nações Unidas. Mas e a Líbia? E o perigo que correu dirão uns? Mas e Portas não escapa a tudo? Não foi feiras e submarinos? Certamente que o ambiente não será hostil e a experiência que teve em S. Julião da Barra dá mais que bagagem para qualquer situação adversa. E digo aqui, Portas escolheu inteligentemente os seus Ministros. Assunção Cristas e Pedro Mota Soares, novos, com força e vontade e trabalhadores. Que imagem que passa.

 

Mas, não só de encontros e desencontros de faz esta coligação. Permite ainda Portas, Assunção e Mota irem à Madeira comparar o PSD, sim voltou a ler bem o PSD da Madeira ao PS de José Sócrates. Epa, mas isso na Madeira, não tem nada a ver. A sério? E virão os resultados? E virão para onde foi o score perdido por Jardim? Pois.

 

Mas continuamos por aí fora. Continuamos com o Presidente do Conselho Nacional do CDS a criticar o Presidente da República. Continuamos com esta nova e brilhante acção de fiscalização das promessas eleitorais e do programa do Governo que o Grupo Parlamentar do CDS avançou. Continuamos por aí fora, cheios de iniciativas interessantes. Até o próprio "descontentamento" do CDS com Álvaro Santos Pereira, pasta que cabia na perfeição a Lobo Xavier e Pires de Lima.

 

A culpa não está no CDS. Eles fazem o seu trabalho e fazem por experiência e por uma diferença: Os olhos de Portas para Barroso e Santana não são os mesmos com que encara Passos Coelho.

Indignados de sofá*

Rui C Pinto, 24.10.11

*José Eduardo Martins assina, na Única desta semana, uma crónica notável que convida à reflexão:

 

"Agora que o céu nos caiu em cima da cabeça, andamos, de tocha na mão, à procura cos "culpados" para um auto de fé que nos alivie. Não é má ideia se nos ensinar alguma coisa.

Merkel? Sócrates? Alberto João? Há muito por onde escolher desde que sejam "eles"... "Nós" não..., não tivemos nada a ver com isto...

Henrique Monteiro quer uma lista dos piores fautores de dívida pública. Para que mudar de vida não seja só viver com menos... E se mudar de vida for prevenir em vez de remediar? Agir em vez de reagir?

Afinal de contas, nós sabíamos muito bem que as rotundas e os pavilhões não davam emprego a ninguém e fomos repetindo os autarcas.

Nós sabíamos muito bem que os patos bravos não são espécie a proteger e aceitámos pasmados que o país fosse ladrilhado.

Nós sabíamos que a riqueza era mais que crédito. E sabíamos que o que as empresas públicas devem, também somos nós que pagamos.

Nós maldizemos os políticos mas achámos muito bem que os partidos inventassem umas "diretas" que produzem resultados cada vez mais coreanos e líderes cada vez mais, digamos, frescos.

Nós percebemos que havia cada vez menos jornalismo e memória e fomos encolhendo os ombros entre a SIC N e as séries na Fox.

Nós, quando tudo corria bem, sempre fizemos por ignorar quem nos avisou que ia correr mal.

Nós quem? Todos? Não... a classe média, que vive on line, que lê este jornal e uns livrinhos, que se licenciou, que tem opinião para os amigos.

Indignados de sofá, com obrigação de saber o suficiente para não algaraviar uns anacronismos patetas, de saber que fomos demasiado longe para voltar atrás, que direitos não caem do céu porque se proclamam. Enfim, a gente que mansamente não quis ser a elite que se impunha e o país precisava.

Na Islândia, mais do que julgar um ex-PM, o país julgou-se a si próprio. Mudou de partidos, de políticos e de vida. Agora, confrontados com o aforismo "se não nos ocupamos da política, ela ocupa-se de nós" queremos só cabeças a rolar. Muito pouco para uma geração inteira, não é?"

Europeísmo à Portuguesa

Miguel Nunes Silva, 23.10.11

 

 

José Sócrates descreveu Lisboa como um “porto de abrigo para a Europa” durante a cimeira de 2007 que aprovou o Tratado com o nome da capital. Porquê? Ora, porque “Portugal é Europeísta”, todos o sabem – pelo menos os nossos políticos e comentariato. Coitados daqueles arrogantes Britânicos arcaicamente irredutíveis em relação a sistemas de medidas e direcção da faixa de rodagem. E que dizer do eurocepticismo paroquial dos democraticamente atrasados Polacos e Checos…

Cronologias sobre a construção do projecto de integração Europeu abundam nas prateleiras estes dias mas quem se debruce sobre a história do projecto Europeu, tem que indagar mais cedo ou mais tarde: “mas que raio tem isto a ver com Portugal?”

Não quero com isto dizer que Portugal não é um país Europeu ou que não lucrou com a UE mas sim expressar a minha surpresa perante tal absoluto consenso. Que inspira afinal o nosso povo a tanta fé em Bruxelas?

 

- Ao contrário dos seus parceiros na Europa central, Portugal não tem nenhum trauma de guerra que dê ímpeto a correntes pacifisto-federalistas;

 

- Também resultado da Segunda Guerra Mundial, Portugal não esteve sob pressão para reconstruir a sua economia e infra-estrutura rapidamente como estiveram as nações devastadas pelo conflito e como tal a ideia de um mercado integrado não deveria constituir uma prioridade de maior para a sociedade Portuguesa;

 

- Mais uma vez em oposição à Europa central, Portugal não teve que acolher massas de trabalhadores imigrantes depois da segunda grande guerra e como tal não houve em Portugal correntes apologistas de projectos de integração multi-cultural;

 

- Se é verdade que Portugal sofre actualmente de um trauma colonial, também se verifica que ao contrário de outros estados-membros Portugal não foi um neocolonialista no hemisfério sul, tendo a sua epopeia de presença naquelas terras começado muitos séculos antes da Conferência de Berlim. Assim, enquanto que a perda das colónias significou um ‘retorno à Europa’ para os outros povos Europeus, Portugal dedicou-se a promover a CPLP e a cooperação tropicalista;

 

- Em contraste com muitos estados saídos da Guerra Fria, Portugal não é um estado recente com um fraco sentido de nacionalidade ou tão pouco um mero ‘estado-étnico’. Portugal será em breve uma nação com 900 anos de história e a soberania tem para nós muito valor;

 

- Enquanto vários estados europeus como a Bélgica ou a Alemanha prefiguram a sua existência com estruturas federais, Portugal é já desde há muito tempo um estado unitário seriamente centralizado e apenas com más experiências no que toca a ‘partilhas de soberania’;

 

- Ao contrário dos povos da Europa central, os Portugueses nunca tiveram que coexistir ou socializar com outros povos. Para o bem e para o mal, como país periférico Portugal não faz parte do jogo de fronteiras recorrente na Europa – as nossas são aliás as fronteiras mais estáveis da história Europeia. Em Portugal não se pode dizer que tanto faz partilharmos um estado com tal ou tal povo porque não seria a primeira vez…;

 

- Raramente fez Portugal parte dos grandes tratados e conferências da História da Europa;

 

- Não existe tão pouco afinidade étnica com outros povos Europeus. O nosso único vizinho não compreende a nossa língua e não existem tribos lusófonas perdidas pela Europa fora que justificassem um sentimento de pertença continental;

 

- A nossa mentalidade é também ela muito diferente – como aliás os nossos problemas financeiros o demonstram abundantemente. Podemos ser latinos e católicos mas mantemos ainda laços com países e regiões muito longe da Europa e dos interesses do velho continente;

 

- Os interesses económicos de Portugal diferem também dos do núcleo Europeu. Como país de mão-de-obra barata, corrupção e fraca inovação, Portugal está muito mais dependente de IDE que outros estados com grandes sectores de exportação. Assim, Portugal seria, quando muito, favorável a integração negativa (desregulação) mas nunca a integração positiva (regulação) que fizesse as leis e mercado Portugueses adaptarem-se a regimes de regulação intensiva e derradeiramente para Portugal, desincentivadora de competitividade nacional.

 

 

Perante este cenário, retomo a minha interrogação: Porque é Portugal Europeísta? A minha resposta é que Portugal pode ser Europeu em valores, mas não é nem nunca foi Europeísta. É possível que haja elites em Portugal que o sejam mas fico com a impressão que joga muito mais o instinto mesquinho dos nossos governantes pela caça ao subsídio e o seguidismo ignorante e escravo-do-politicamente-correcto dos nossos media.

 

Sermos não somos ...mas faz-de-conta que sim.

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