AINDA SE LEMBRAM DO ANIMAL FEROZ? ( A ENTREVISTA DE SÓCRATES)
E José Sócrates lá deu a entrevista a Judite de Sousa na RTP, depois da birra que obrigou a estação a adiar a mesma de quinta-feira para ontem (pois Sócrates não podia dar a entrevista enquanto decorria o jogo do Benfica, por sinal na SPORTTV).
No aspecto formal, a entrevista revelou a "terceira via" da figuração socrática: inicialmente, no estado de graça, tínhamos o Sócrates cortante, determinado, obstinado, teimoso; depois do descalabro nas europeias, tivemos o Sócrates suavezinho, calmo, muito sereno, muito vagaroso; agora, temos o meio - termo. Temos um Sócrates sempre de sorisinho na face, com um tom de voz calmo, mas que não se exime de criticar com dureza a oposição (ao que parece, antes de entrar no estúdio, Sócrates ia de olhos fechados, tendo o seu assessor dito para sorrir ao longo da entrevista).
Ao nível do conteúdo, nada de novo: avançar com grandes obras públicas (grande irresponsabilidade), mais Estado no combate à crise, através da atribuição de subsídios e mais subsídios sem critério, acentuando o Estado paternalista (erro crasso que permite perceber que votar Sócrates será votar para que tudo fique na mesma), causas fracturantes(manobra de diversão para desviar a atenção do que é essencial e rebuçado doce dado ao BE), bem como aposta no apoio às grandes empresas, asfixiando as PME's (loucura total).
Para mim, o mais signifcativo desta entrevista foi a revelação de que Sòcrates não é mais o animal feroz de outrora - é um primeiro-ministro (e candidato do PS) frágil. É uma mera aparência do Sócrates que parecia imbatível.
Dois aspectos da entrevista revelam bem a pequenez (ou direi mesquinhez?) política de Sócrates:
- referiu que o PSD não tem autoridade moral para falar de asfixia democrática porque excluiu Passos Coelho das listas. Ora, um Primeiro-Ministro não desce ao nível das tricas partidárias internas de um partido que não é o seu - discute o país, responde, confronta a líder da oposição sobre visão (diferente) que têm para o país. É que Ferreira Leite não se pronunciou nunca sobre o "exílio dourado" que Sócrates ofereceu a militantes do PS que, em cada momento, mais o incomodavam (Ferro Rodrigues, Cravinho, Maria Carrilho). Nem se pronunciou sobre a extinção do cargo de coordenador da Comissão permanente, centralizando em si o controlo de todo o partido. Não: Ferreira Leite denunciou o domínio, a colonização do Estado pelo PS. Confrontado com os casos Charrua, a demissão de uma directora hospitalar por discordar de Correia de Campos, as pressões editoriais exercidas sobre a TVI(tendo Pina Moura sido seu presidente), processos contra jornalistas, a exclusão de Passos Coelho é uma telenovela de Verão, é um episódio dos "Morangos com Açúcar - Geração Rebelde" , um acto de rebeldia do político jovem, cool (embora já com 40 anos) contra a líder já ultrapassada....Risível.
- A reacção ao caso das escutas ao Presidente da República, dizendo que a relação entre os dois órgãos de soberania não sofreu nehum tombo, tudo está bem, acrescentando que não é cínico. Pois não, é pior: é hipócrita. Sócrates tem um tique esquerdista(para não dizer estalinista) que é: o líder só é responsável pelas medidas positivas, é imaculado, é um Santo na terra. Não faz nada de mal: isso são os seus colaboradores, assessores, colegas de partido. Sócrates, ao memso tempo que afirma a boa relação institucional com Cavaco, manda os seus assessores ou apparatchiks do partido criticarem o Presidente. Pobre do Rui Paulo Figueiredo, por quem tenho estima pessoal, que foi queimado por Sócrates no caso das escutas!
Em suma, Sócrates tem consciência que está numa encruzilhada - e o seu fim político tem data marcada. Dia 27 de Setembro.