Social Democracia... à portuguesa?
Quem é capaz de contestar o seguinte, como principios defendidos por todos os militantes do PPD/PSD:
O homem é explorado quando se sente asfixiado pelo aparelho burocrático do Estado;
O homem é oprimido quando, por qualquer modo, lhe é vedada a liberdade interior, ou a abertura ao transcendente espiritual;
O homem é oprimido quando a sua vida privada não decorre com a necessária intimidade;
O homem é explorado, a qualquer nível, quando é sujeito ao exercício tirânico da autoridade ou a imposições abusivas de minorias activistas;
O homem é explorado quando a sua consciência de pessoa é abafada pelas massas ou é objecto de manipulações da sociedade de consumo.
Contra todas as formas de exploração e de opressão, urge lutar, mobilizando as múltiplas conquistas do progresso, com vista a uma nova ética da vida em colectividade.
Os mais rápidos dirão que isto é o programa do PSD. Desenganem-se… Os mais atentos identificaram de onde vem a citação acima: são os principios da Democracia Cristã europeia, a base fundadora dos partidos de Direita Liberal na Europa e representada na Europa pelo Partido Popular Europeu, formação onde nos inserimos.
Então e se eu citar o seguinte conjunto de principios:
“De nada vale o capital sem o trabalho, nem o trabalho sem o capital” (...) ”é inteiramente falso atribuir ou só ao capital ou só ao trabalho o produto do concurso de ambos; e é deveras injusto que um deles, negando a eficácia do outro, se arrogue a si todos os frutos.”
"A liberdade econômica é apenas um elemento da liberdade humana. Quando aquela se torna autônoma, isto é, quando o homem é visto mais como um produtor ou um consumidor de bens do que como um sujeito que produz e consome para viver, então ela perde a sua necessária relação com a pessoa humana e acaba por a alienar e oprimir."
O Estado deve, porém, abster-se de uma intervenção abusiva que possa condicionar indevidamente a ação das forças empresariais. A intervenção pública quando necessária deve ater-se aos critérios de equidade, racionalidade, e eficiência e não deve suprimir a liberdade de iniciativa dos indivíduos.
"Ah sim! Isso é a 'social democracia', Guilherme!". Nop, também não. No caso em mãos, são citações da Doutrina Social da Igreja [Católica]. Encaixam bem no PSD não encaixam? Pois... esse é exactamente o meu ponto: de "Social Democratas", no sentido europeu do termo [cisão na Segunda Internacional Socialista, actualmente representado pelo Partido Socialista Europeu onde nós não estamos!] temos muito pouco. Somos mais parecidos com um Partido de inspirações em correntes como a Democracia Cristã, Liberais e Conservadores. Uma versão portuguesa da CDU/CSU alemã ou do PP espanhol.
O problema? O nosso "trauma da Direita" que dá origem a esta aberração:
Um Partido Socialista que na realidade é Social Democrata, um Partido Social Democrata que é Popular, e um Partido Popular que pouco mais não passa de Populista!