Estas eleições legislativas são mais do que uma competição inter-partidária. Se é verdade que o futuro dos líderes dos partidos mais pequenos do parlamento não depende minimamente do seu desempenho nas legislativas, o oposto verifica-se nos “dois grandes”.
Esta situação decorre de algo que o situacionismo dos media Portugueses tem obscurecido: o facto dos dois principais partidos políticos terem diferenças ideológicas largamente irreconciliáveis.
Nesta medida, aqueles que acusam a comunicação social de ser parcial contra os partidos centristas e favorável aos fenómenos de sensacionalismo que são os extremos ideológicos no parlamento, tem toda a razão. A crítica de indiferenciação dos partidos de centro já vem sendo repetida há muitos anos em Portugal e a razão é simples: as margens do parlamento têm de facto mais vincadas diferenças ideológicas. Aquilo que os media escondem é que é precisamente por lhes faltar moderação e pragmatismo que estas forças políticas nunca produzem primeiros-ministros.
Não é vergonha nenhuma divergir do politicamente correcto, no que toca ao “centrão”, identificando-nos com um dos “dois grandes”. Eles NÃO SÃO todos a mesma coisa NEM tão pouco DIZEM a mesma coisa. De facto, grande parte da culpa pela descredibilização da classe política em Portugal é oriunda dos partidos de extremo e da comunicação social que os inclui no agenda setting mutuamente seguidista, que transforma os nossos noticiários numa perpétua silly season, que difunde o bizarro o escandaloso e derradeiramente o supérfluo. Não é por acaso que os designamos de comunicação social e não informação social.
Na verdade, desde há muitos anos que PS e PSD não divergiam tanto. Se é verdade que em algumas matérias impera o consenso, na gestão macroeconómica do país não poderia haver mais desacordo, e precisamente porque algumas divergências são insanáveis, é que o futuro político de José Sócrates e de Manuela Ferreira Leite depende das próximas eleições. Não havendo maioria absoluta, um deles terá de sair.
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MFL perderá controlo do partido se não conseguir formar um governo de maioria relativa – presumivelmente com o CDS-PP. Sócrates será forçado a abdicar como Secretário-geral do PS a menos que os Socialistas sejam o partido mais votado e possam formar governo com maioria relativa. Em caso de o PS acabar empatado com o PSD e contemplar formar uma coligação à esquerda, Sócrates terá também de sair pois nunca o PCP ou o Bloco aceitariam a face do liberalismo de centro-direita numa coligação. Finalmente, no caso de o Presidente da República exigir um bloco central, o líder do partido menos votado terá de sair pois o país necessitaria de um consenso em matéria de economia e entre JS e MFL tal nunca seria possível.
A diferença entre a saída de MFL ou JS é significativa. Sócrates, como todos os populistas, terá vida para além do governo e, ou como comentarista ou como líder de facção no PS, depressa conseguirá voltar à ribalta e à agressividade facciosa que lhe é característica.
MFL por outro lado, decidirá deixar a política de vez. O problema é que se a saída de Sócrates pode marcar o fim da era do populismo em Portugal, a saída – permanente – de MFL marcará o princípio e o fim da política sem demagogia. Se MFL perder e se retirar, a estrutura do PSD aprenderá a lição errada: a de que a política de verdade não compensa…
Psico-Convidado
Miguel Nunes Silva