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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

SÓCRATES, O TEU FUTURO NÃO É FIXE!

João Lemos Esteves, 24.09.09

 

                                    

Independentemente do que vai suceder no domingo, há uma derrota que tenho por adquirida: a derrota de Sócrates. Mesmo que o PS ganhe (e estando o cenário de maioria absoluta já afastado), Sócrates será o grande derrotado da noite eleitoral.  Contraditório? Inverosímil esta minha tese? Não - creio que é apenas realista.

 

Com efeito, Sócrates governou durante pouco mais de quatro anos com maioria absoluta, apoiado por um grupo parlamentar e um partido totalmente domesticados e submissos aos ditames superiores do grande Chefe, Assim Sócrates queria, assim o PS fazia. Até correntes teoricamente divergentes da linha da liderança socrática , personificadas em António José Seguro, Manuel Alegre e os que preservam os "restos mortais" do soarismo, eclipsaram-se durante parte significativa da legislatura. É certo que Alegre fazia algum frisson aqui e ali, mas foi sempre sol de pouca dura - Sócrates sabia que tinha Alegre na mão (o sonho de ser Presidente da República fala mais alto que qualquer divergência ideológica ou questão de princípios). Ora, mesmo que Sócrates ganhe com maioria relativa será um líder fraco, frágil - será a negação do estilo que cultivou nos últimos quatro anos. Será uma sombra do Sòcrates que conhecemos. Alguém imagina o animal feroz a negociar, a ceder, a lidar com a contestação social, a não poder acabar com telejornais incómodos, a pressionar directores de jornais? Sócrates não sabe governar dialogando. Precisa do confronto (precisa de inimigo externo, artífices de campanhas negras que possa acusar para manter o partido coeso). E é precisamente aqui que entra o Bloco de Esquerda.

 

Todos já reparámos na inflexão estratégica (e táctica) de Louçã. Inicialmente, atacava governo e PS - agora já não, aposta na oposição entre esquerda e maioria absoluta. Curiosa esta bipolarização: esquerda (ou seja, BE e ala esquerda do PS) contra a maioria absoluta(isto é, PS com Sócrates). Caso  Sócrates ganhe com maioria relativa, os sinos vão soar no Largo do Rato e despertar aquele partido adormecido. Vítor Ramalho, José Seguro e outros, muitos outros vão logo afirmar que se confirma o desagrado dos portugueses com o governo, como é possível perder maioria absoluta em quatro anos, com condições excepcionais. Entretanto, muitos que estão com Sócrates hoje, vão passar imediatamente, assim que sentirem que Sócrates já não é o futuro, para o lado adversário da actual liderança (não é Augusto Santos Silva? não é Vieira da Silva ?). A verdade é que com esta nova linha seguida pelo BE, já se sabe que vai apoiar, fazer tudo para que os socialistas mudem de líder. Ou a coincidência temporal entre o discurso de Soares apelando a coligação com os bloquistas e a intervenção de hoje de Louçã é pura coincidência? Uma convergência objectiva? Não sejamos ingénuos...

 

Em suma, Sócrates está numa encruzilhada. Não se vai aguentar muito tempo, seja qual for o veredicto dos portugueses no domingo. Curiosamente, será o BE, movimento/ semi-partido que Sócrates ora namorava (com as causas "fracturantes") ora elegia seu principal inimigo político,  que irá puxar-lhe o tapete do poder. Através de um conluio, de uma coligação objectiva de interesses entre os bloquistas e a ala esquerda do PS. Quem diria? As voltas que a vida dá, as voltas que a vida dá!

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