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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Euro: Sangue frio e Credibilidade

Guilherme Diaz-Bérrio, 25.09.09

 No dia 9 de Agosto de 2007, os mercados pararam. Lembro-me desse dia especialmente bem pois, além de ser o meu aniversário, foi o dia em que recebi de "prenda de anos" ir trabalhar para um Hedge Fund. 

 

Imaginem o meu começo: primeiro dia no trabalho e aniversário, e quando entro, os mercados estão em "Arritmia cardíaca"! Ninguém sabia o que se estava a passar!

 

O mercado interbancário de Londres e Frankfurt estava parado. Nenhum banco emprestava dinheiro a outro banco na zona euro. Como consequência, a Euribor estava a caminho da Lua! Normalmente este é o dia que se associa com o "começo oficial" da actual crise, o dia em que os problemas se tornaram demasiado evidentes.

 

Foi também o dia em que um homem liderou um Banco Central de uma forma eximia. O mercado parado, todos os bancos em pânico, os investidores a pensar "Os EUA ainda estão fechados, a Reserva Federal o que fará?", e o Banco Central Europeu decide tomar a iniciativa e não esperar! Em poucas horas apagaram o fogo e acalmaram os mercados. Pela primeira vez, a Reserva Federal seguiria outro Banco Central nas suas medidas. Enquanto Bernanke e a Fed estava a garantir ao Congresso que o "problema estava contido", Trichet e o BCE estavam com calma, a fazer a ponte entre bancos, para garantir o bom funcionamento do mercado, sem descer as taxas de juro a zero.

 

Nunca houve uma diferença tão clara de respostas dos dois lados do Atlântico em relação à resposta a uma crise. Nunca o Banco Central Europeu sofreu tantas pressões para seguir a Reserva Federal. Mas Trichet revelou-se o único banqueiro central a manter o sangue frio no meio da crise. Enquanto a Reserva Federal ligava as impressoras, o BCE mantinha um equilibrio delicado entre o seu mandato contra a inflação e a estabilidade do sistema financeiro.

 

Muito se passou: falou-se do fim do Euro, da saída de países, de como Trichet ia "implodir com a Europa" com a sua "teimosia", de como deviamos seguir os americanos na sua política, de que era preciso as famosas "Eurobonds"!

 

Dois anos depois, ainda não saimos da crise. Mas as diferenças de sustentabilidade e credibilidade dos dois lados do Atlântico começam a ser claras. O Japão e a China hoje falam em passar parte das reservas de Dólares para Euros, os bancos europeus estão de muito melhor saúde que os americanos (honrosa excepção para os Espanhois, o "buraco negro" financeiro da Europa!) e a contracção de crédito parou na Zona Euro, segundo os últimos dados.

 

Já vi, nos meus dias de fundo de investimento, quando Trichet e Bernanke falam no mesmo dia, os "mercados" seguem o primeiro e ignoram o segundo. Hoje, já não se fala de fim do euro. O Euro sobreviveu à sua maior crise, e a uma das maiores crises financeiras das últimas décadas. Agradeçam, em primeiro lugar, ao BCE e ao seu "irritante" Governador, Jean Claude Trichet!

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