CARTA ABERTA A PEDRO RODRIGUES
Caro Pedro Rodrigues,
Já tive oportunidade de neste espaço elogiar o poder e capacidade de negociação política aquando da feitura das listas para as legislativa, onde a JSD teve uma representação significativa. Tiveste mérito (juntamente com a tua equipa) nessa vitória política - e qualquer pessoa de boa fé o reconhece. No meu entendimento, o teu ciclo de liderança deveria terminar aí.Seria positivo para ti e para o teu projecto (permitia que saísses pela porta grande, num momento de afirmação política), bem como para a JSD (sejamos francos: até ao fim do mandato, a actual CPN vai limitar-se à gestão política corrente, sem o rasgo político que a caracterizou nos últimos meses - e vai sair na mó de baixo). Tudo dito e ponderado, mantenho a opinião de que seria altura de iniciar um novo ciclo na JSD com outra frescura, outras ideias, outro estado de espírito - independentemente da pessoa que o protagonize. Não foi esse o entendimento que vingou. Legitimamente. Muito bem - mas eu, como militante de base da JSD, não posso deixar de exigir que não sejas nos próximos meses apenas um presidente a part-time. O nosso partido está a viver uma fase complexa e de indefinição - a responsabilidade e o papel da JSD também se vão jogar no futuro (muito) próximo.
Espero naturalmente que sigas uma boa prática dos últimos anos - a JSD não apoia oficialmente nenhum candidato à liderança do partido. Deixa os seus militantes reflectirem livremente e tomarem a sua decisão em consciência. Mas não se confunda esta posição com total indiferença, abstenção ou alheamento em relação ao futuro do partido. Porque nós, jovens sociais-democratas, queremos (temos) de ter uma palavra construtiva na construção do rumo do partido de que também somos militantes. Caso contrário, remetemos para a total inutilidade todo o trabalho que foi feito por ti, Pedro, de credibilização da jota. Voltaremos à imagem dos jotinhas que seguem os candidatos do partido, agitando bandeirinhas e distribuindo material de campanha. Queremos este retrocesso? Não queremos, Pedro. Para ti, seria passar de uma vitória política significativa para uma derrota monumental. E deixarias a JSD numa situação delicada, de irrelevância política. Terminarias o teu mandato de forma desastrosa.
Caro Pedro,
Terás de, em nome da JSD; tomar posição sobre o futuro do PSD. Não sobre candidatos, nomes ou fulanizar o debate neste momento. Como militante, quero que a JSD se afirme, tome posição sobre se quer directas já e mudar algo para que tudo fique na mesma ou se quer uma discussão séria, ponderada sobre o caminho a seguir, relaizando para o início do próximo ano um Congresso amplamente participado? Creio, muito honestamente, que tens um dever funcional de comunicar a posição da JSD. Só assim poderemos ser ouvidos e levados a sério.
Todos sabemos que tens uma predilecção por certo candidato que há muito já se perfilou na corrida. Não há problema e tens todo o direito de o assumir, como qualquer militante social-democrata. O que não pode suceder é que essa preferência interfira na tua actuação como presidente da JSD. Tens de colocar o interesse da JSD acima das tuas escolhas políticas meramente pessoais. Não te esqueças: está em causa não o apoio a um candidato, mas sim um rumo, uma opção estratégica. Esperoi que o faças ainda antes do final do ano ou no início do próximo. O tempo urge.
Abraço (e não esperes pelo Pai Natal para anunciar a posição da Jota),
João Lemos Esteves