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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

E A RTP SEMPRE VAI CONSEGUIR AFASTAR MARCELO?

João Lemos Esteves, 12.01.10

 

 

A RTP anunciou, ontem, que vai mudar o seu modelo de comentário político. O que, naturalmente, significa que a extinção dos programas " Notas Soltas de António Vitorino" e " As Escolhas de Marcelo Rebelo de Sousa" é irreversível. Sejamos claros: a verdadeira intenção da RTP é pôr termo ao programa de Marcelo Rebelo de Sousa. Foi um processo longo e que já se iniciou há muito tempo. Desde as mudanças constantes de horários, passando pela redução progressiva do programa para quase metade da duração nos últimos meses, esta é uma morte televisiva de um formato há muito anunciada (por muito que o esforçado director de informação da RTP, o afável José Alberto Carvalho, tentasse dar a volta, já todos estávamos a ver o filme).

 

Dir-me-ão que há razões ponderosas de carácter comercial que não justifica manter um programa de comentário político ao domingo, em pleno prime-time. Não é verdade - a edição de Dezembro da revista "Briefing" comprova-o. Esta publicação analisou comparativamente  as audiências dos programas de António Vitorino e Marcelo Rebelo de Sousa ao longo de 2009, até dia 13 de Dezembro. Conclusões: só pontualmente Vitórino registou maior índice de audiência média (ou seja, as pessoas que em determinado momento estão a ver o programa em relação ao total do universo de pessoas que dispõem de televisão) do que Marcelo - e, ao domingo, note-se, a concorrência das privadas é mais feroz.  Ademais, o programa de Marcelo, em termos de share (número de pessoas que vêem o programa em relação ao total de pessoas que estão a ver televisão naquele momento) , que é o que verdadeiramente importa para atrair investimento publicitária (que a RTP diz não precisar, mas que mantém , retirando as receitas às privadas que não têm ajudas do Estado) consegue uma média anual de, aproximadamente, 30%. É obra! É o programa de comentário político mais visto da televisão portuguesa, está ao nível de audiências de um programa de entretenimento (regista mais audiência do que alguns episódios de novelas da SIC) - só para se ter uma ideia, José Eduardo Moniz, o génio da televisão em Portugal, afirmou que um programa de prime-time ter acima de 26% é notável...Isto significa que para desagrado dos pseudo-intelectuais, sábios da teoria da comunicação que dominam a ERC, Marcelo tem tal popularidade porque, não ocultando que tem uma história pessoal, determinados valores e milita no PSD, consegue distanciar-se das conveniências e amizades pessoais, tomando uma posição tão imparcial quanto possível em relação aos factos que semanalmente comenta. Ora, isto é único em Portugal, conseguindo Marcelo cativar espectadores da classe D (a mais baixa) até à classe A (A classe alta). Põe Portugal a pensar, sem distinção entre letrados e não letrados, intelectuais ou não, doutores como os da ERC ou não. E isto é serviço público. 

 

O que é que a RTP decide fazer? Acabar com o programa, convertendo numa espécie de "crossfire" - um programa semanal de debate entre Marcelo e António Vitorino. É uma ideia que já se viu não resulta: os que já foram ensaiados em Setembro e Outubro não correram bem. Para quê insistir no erro? Porque é preciso agradar a Sócrates (ou a outros que também estão desejosos de silenciar Marcelo)? Não se percebe...

 

Concluindo, como o vínculo que o liga à RTP cessa em Fevereiro, se eu fosse Marcelo Rebelo de Sousa, não aceitaria ficar no formato de debate com Vitorino. Sendo Marcelo mais visto e influente do que Vitorino, quem é que perderia mais? Vitorino? Claro que não...

Além disso, como Vitorino é um pombo correio da mensagem do PS e do governo, aceitar debater com ele regularmente num programa semanal, seria transformar Marcelo num porta-voz num mensageiro do partido, completamente alinhado, sem pensamento próprio - esse não é o seu perfil. E, afinal de contas, a RTP precisa mais de Marcelo do que Marcelo da RTP - a TVI e a SIC já manifestaram o seu interesse em contar com a colaboração do Professor. E nós, tal como muitos portugueses, queremos continuar a contar com a sua análise política e social. Porque é o único que consegue levar os portugueses a pensar a política nacional - e acreditem que nos dias que correm não é fácil...  

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