PARA QUE SERVEM AS DISTRITAIS???

Bruno Ribeiro, 20.01.10

Foi a pergunta lançada para uma mesa à volta da qual se discutiam as próximas eleições aos órgãos distritais do PSD de Setúbal. E posso dizer-vos que uma eventual resposta da minha parte me deixou a pensar, daí estar a escrever este post.

É óbvio que as Distritais servem para alguma coisa! Está nos nossos estatutos, expresso em 7 pontos. Sete! Gerir a actuação do partido no respectivo distrito, coordenar a acção das Secções, propor candidaturas à Assembleia da República, coordenar os autarcas, homologar novas Secções, coordenar a ligação dos Deputados à sociedade civil e apresentar as contas do partido a nível do distrito.

Pois bem, temos então que as Distritais têm dois tipos de funções: meramente administrativas (contas, homologações) e subjectivas (coordenação de titulares eleitos para cargos públicos, aplicar a estratégia nacional no seu distrito e propor candidaturas que a direcção nacional quase pode ignorar).

Tendo em conta estes factos, é realmente aceitável que se ponha em causa a utilidade deste nível de órgãos. Poderão sempre argumentar que estamos recheados de dirigentes distritais fantásticos, que fazem um grande trabalho e dão um contributo fundamental ao partido. Ou então também poderão dizer “eh pá oh Bruno, tás p’aí a mandar postas de pescada mas afinal qual é a solução alternativa?”

Isso é o que eu espero perceber na caixa de comentários…

18 comentários

Tiago Laranjeiro 20.01.2010

Tenho dado por mim a pensar várias vezes sobre esta mesma questão: para que servem as distritais. Só as vemos em disputas internas ou quando é para discutir lugares em listas. E assumem uma importância absurda nos congressos pelas inerências. São a face mais visível do "aparelho partidário", em tudo o que esta palavra tem de mau. A imagem dos partidos e da democracia sai prejudicada quase sempre que vemos as distritais serem motivo de notícia.

A estratégia das secções parte muito mais de iniciativa própria do que por "direcção" da distrital. Na decisão das políticas a tomar pelas secções raramente se olha à estratégia distrital, mas sim aos interesses da secção. Nas quatro CPS em que já participei nunca foi necessário o aval ou coordenação da distrital para fazer o que quer que fosse.

As contas podem (e devem) ser apresentadas individualmente pelas secções. As homologações de novas secções podiam ser feitas directamente pela nacional.

Uma solução completa para este problema não conheço. Mas incomoda-me como, vivendo numa sociedade em que a informação tão rápida e eficazmente, não é possível que a coordenação entre secções não possa ser feita directamente entre estas, "saltando" esse órgão centralizador de poder que são as CPDs. A proposta de nomes para listas podia ser feita pelas próprias secções, num processo em que os que pretendem integrar as listas teriam que angariar directamente o apoio destas. A ligação dos deputados ao distrito deve partir da iniciativa destes (como parte efectivamente), muito mais do que por iniciativa das distritais. Dá mais trabalho, mas o ganho de transparência no processo compensa.

Possivelmente a reforma interna teria de ir mais longe, pois seria necessário alterar toda a lógica de pensar a vida interna dos partidos. Mas a ideia de descentralização e de acabar com um órgão de mera gestão interna que antecede estas propostas é justa.
- link
- responder

Bruno Ribeiro 20.01.2010

Tiago, pegaste em várias coisas que deixei propositadamente de fora do post para que pudéssemos abordá-las nesta discussão. Também concordo que várias das competências atribuídas às CPDs apenas lá estão porque o órgão existe pois são tarefas perfeitamente dispensáveis.

E dizes outra coisa extremamente importante: "Só as vemos em disputas internas ou quando é para discutir lugares nas listas". Exacto! E sabemos também que, em vésperas de legislativas, uma eleição para os órgãos distritais se reveste sempre de uma importância acrescida (a avaliar pela atitude de muita gente por este país fora, poderíamos mesmo dizer "vital") pois todos querem estar na posse da faculdade de influenciar as listas de deputados. Acaba por ser ridículo quando depois vemos as lideranças nacionais a marimbarem-se nas indicações distritais...
- link
- responder

Diogo Agostinho 20.01.2010

Tal como o Tiago e o Bruno, acho que se deve reflectir sobre esta estrutura dentro do PSD e da JSD.

Hoje, as distritais são o órgão entre as Secções e a Nacional. Mas, se percebermos a essência, hoje as distritais gerem dirigentes. Não mais que dirigentes. Logo aqui começa o mal das distritais. Gerir egos e quintas de secções e núcleos não é fácil. E por não ser fácil, a missão de uma distrital é tentar coordenar várias casas.

Desde logo, não existem listas livres para as distritais. Existe sempre um processo de negociação, uma quota de uma secção, uma negociação assim e assada. Depois quem stá numa distrital raramente convive com os eleitores de base. Primeiro, porque quem vota neles são os Conselheiros distritais, depois o apoio vem dos Presidentes de Secção, isso limita o seu raio de acção e muito.

Para que servem? Bem, contínuo à procura de respostas. Mas aqui stá um excelente tema Bruno para lançarmos um psico-evento.
- link
- responder

Tiago Mendonça 20.01.2010

Caro Bruno,

Acho que as Distritais têm a possibilidade de assumir um papel muito importante no que ao nosso partido diz respeito, ou, se quiseres, fazendo a transposição para a JSD, podem assumir um papel muito importante na nossa estrutura autónoma.

Tentando dar uma resposta sintética e esquemática à questão que colocas, acho que uma Distrital, tanto no PSD como na JSD, deve assumir quatro tipo de funções – excluindo as tarefas administrativas e financeiras a que te referiste.

Desde logo, uma função de gestão autárquica, com três segmentos diferentes: A harmonização das pretensões (em especial quando não existem Concelhias) das várias secções, em sede de listas para as eleições Autárquicas. Depois, e com muito mais importância que o primeiro ponto, a formação autárquica, que deve, em minha opinião, ser mais especifica e pensada Concelho a Concelho. Nunca percebi muito bem, como é que se pode dar a mesma acção de formação autárquica em Cascais, em Loures, em Setúbal ou no Porto. As especificidades são muito diferentes. Por isso defendo, em sede de JSD, que o Gabinete Autárquico deve ter uma representação assinalável de pessoas de todos os Concelhos que compõem a área de circunscrição da Distrital. Em terceiro lugar, ainda em sede desta primeira função, o acompanhamento autárquico, feito com a visita às Assembleias de Freguesia e Assembleias Municipais e o prestar de todo o apoio que as secções necessitem.

Em segundo lugar, a coordenação das várias secções. Não no sentido impositivo, até porque como já foi dito aqui, existem muitas secções que não precisam da Distrital para fazer esta ou aquela iniciativa. Mas acho que a Distrital, deve ser um sujeito activo e não um sujeito passivo, devendo alertar e motivar as secções para a realização do trabalho político. A distrital pode ter o papel de aqui e ali chamar a atenção das secções para janelas de oportunidade de realização desta ou aquela iniciativa. Deve também, quando tiver a sensibilidade de algum problema relativo a determinado Concelho, em conjunto com essa secção fazer enfoque do problema junto das populações.

Numa terceira ideia, defendo que as Distritais devem igualmente ser um centro privilegiado da difusão da mensagem da JSD e do PSD. Fala-se, que o próximo Congresso do PSD poderia ser a Sul, no Alentejo, por exemplo, tendo efeitos importantes em sede de chegar a uma população que habitualmente não confia o seu voto no Partido Social Democrata. Numa distrital, noutra escala, isso também é possível fazer. Mais uma vez, falando do exemplo da JSD, a realização de um Conselho Distrital ou de uma Comissão Politica Alargada em determinado Concelho, pode ter um efeito mobilizador para as secções desse Concelho, para os seus militantes. Lembro, por exemplo, que seria interessante fazer um Conselho Distrital, no que à JSD e ao Distrito a que pertenço diz respeito, na Azambuja, em Loures, em Mafra. A ideia de descentralizar, é quanto a mim muito importante, e é da responsabilidade de uma Distrital.

Por último, a Distrital deve ter a sua agenda própria. Deve realizar iniciativas e tomar posições que tenham que ver com todo o distrito, isto é, que sejam específicas demais para terem uma tomada de posição da Nacional, mas sejam de domínio suficientemente alargado que fuja ao âmbito de intervenção das secções. Um bom exemplo, é a questão da mobilidade entre os vários Concelhos de um Distrito, um tema que deve ser a Distrital a tratar. Para além disso, uma Distrital pode ter estruturas especificas, que assumam também preponderância em dossiers concretos, lembro-me, em sede de JSD, das Coordenadoras do Ensino Secundário e do Ensino Superior, que como tenho vindo a afirmar devem ser o coração do trabalho politico realizado por uma Distrital. Estimular, a criação de Núcleos de Estudantes, difundir a mensagem da JSD, nas Escolas Secundárias, tomar posição sobre questões importantes como o financiamento do Ensino Superior ou o Processo de Bolonha, são matérias importantes, que, com excepção para o ultimo exemplo, não cabem na agenda de uma Nacional.

Resumindo, a Distrital deve ser um órgão muito importante em termos de harmonização, acompanhamento e formação autárquica, e deve assumir uma vertente de coordenação, descentralização e materialização de uma ag
- link
- responder

Tiago Mendonça 20.01.2010

Quando escrevi o meu comentário, não tinha ainda lido o comentário do Diogo. Referência para algo muito importante: A forma como se constitui uma Distrital. Para mim, é essa a base do problema. Não se consegue ter uma Distrital eficiente, enquanto se sujeitar o processo de Construção de uma equipa a uma lógica de quotas de cada secção – tanto pior que são lógicas numa vertente de quantidade e não de qualidade das secções. Uma distrital, em meu entender, deve ser construída de forma muito simples:

1 – Definição dos Objectivos.
2 – Definição das Funções/Pelouros necessários para a prossecução desses objectivos.
3 – Definição do Perfil adequado a cada função/pelouro.
4 – Convite ao militante no Distrito que melhor se enquadrar nesse perfil.

Só assim se garante uma equipa eficiente, vencedora e que mobilize, no caso da Jota, os jovens. De outra forma, é impossível.
- link
- responder

Bruno Ribeiro 20.01.2010

O problema, Tiago, é que eu acho que é mesmo utopia, acreditar em muitas das coisas que sugeres. Obviamente, se tudo funcionasse como dizes, não estaríamos aqui a ter esta discussão.

E repara que eu nem sequer falo nisto por causa de Setúbal. Bem pelo contrário porque no meu Distrito até temos uma CPD que trabalhou bastante, apostando na formação e no apoio a todos os actos eleitorais.
- link
- responder

Comentar post

Pág. 1/2

Sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

Arquivo

2022
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2021
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2020
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2019
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2018
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2017
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2016
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2015
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2014
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2013
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2012
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2011
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2010
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2009
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2008
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2007
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

2006
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D

Mais visitados

Enquanto se capa não se assobia!*
12 Setembro, 2012
Não é possível manter a maçã no cesto da fruta e, ao mesmo tempo, comê-la! Ou se come a (...)
Prof Doutor Paulo Otero strikes again...
16 Junho, 2011
A quem o nome diz pouco ou nada, cabe-me recordar que se trata do Professor da Faculdade de (...)
Sempre me disseram que em equipa vencedora não se ...
08 Agosto, 2010
97% dos juízes tiveram Bom ou Muito Bom... e não há medíocres
"Esta Choldra é ingovernável"...?
18 Janeiro, 2010
O título foi um conhecido desabafo do penúltimo Rei de Portugal, D. Carlos I, em relação (...)
A minha familia é mais ilustre que a tua...
08 Novembro, 2007
Ao percorrer a página com o corpo docente da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (...)

PSICOLARANJA

PSICOLARANJA

Navegando pela História da Europa