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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

A TROVA AO VENTO CHAVEZANTE QUE PASSA EM PORTUGAL...

João Lemos Esteves, 03.02.10

 

 

Acabo de ler a obra de Fernando Correia e Carla Baptista (ambos professores da Universidade Nova de Lisboa) intitulada “ Memórias Vivas do Jornalismo”. Dá-nos o retrato de como funcionavam as redacções sobretudo dos jornais nacionais (já que a rádio e a televisão ainda se encontravam numa fase incipiente) na fase mais decisiva do jornalismo português – os anos 60/70. A particularidade deste livro é que não se limita a uma narração descritiva, nem a uma simples apresentação dos factos, das mudanças que se operaram nos órgãos de comunicação social portuguesa : dá voz aos actores cimeiros dessa evolução, os jornalistas. Oferece,pois, aos leitores uma visão subjectiva, não teorizada (e porventura não teorizável) do modo de funcionamento das redacções, da sua organização,ou do acesso à profissão de jornalista. E quem é que dá o seu testemunho neste livro cuja leitura recomendo vivamente? Jornalistas tão díspares e tão marcantes como Eduardo Grangeiro, Fialho de Oliveira, Joaquim Letria, Pedro Foyos, Acácia Barradas ou José Carlos Vasconcelos.
Destaco uma nota que retive da experiência de todos estes jornalistas: trabalhando em ditadura, com restrições severas à sua actividade, sob o escrutínio impiedoso da Censura Prévia ( e do Exame Prévio com Marcello Caetano), nunca se vergaram ao poder político. Recorrendo a meios mais criativos (contornar a proibição através do recurso a outras palavras ou fotografias) ou mais expeditos (como, por exemplo, pressão directa sobre os funcionários da Censura), aqueles jornalistas não abdicavam de transmitir a sua mensagem. Há, aliás,uma frase que é citada por quase todos: o primeiro dever do jornalista é com a verdade dos factos.
Vejo agora as notícias que marcam a actualidade. Portugal 2010. Democracia. Liberdades de informação e expressão constitucionalmente consagradas. Paradoxalmente, vemos uma ofensiva do Governo contra a comunicação social não alinhada como nunca se viu. O novo episódio que envolve Mário Crespo define na perfeição Sócrates: um líder mesquinho, que exerce o poder pelo poder, sem visão para o país. Para ele, governar corresponde ao exercício pessoal do poder, mediante o controlo da opinião pública, afastando os desalinhadas que, por não aderirem à onda vanguardista socrática, só podem ser “mentalmente atrasados”, “dormir pouco” (como afirmou Silva Pereira ao Expresso, referindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa) ou “conservadores pacóvios”. Sócrates já conseguiu afastar Manuela Moura Guedes, José Eduardo Moniz, vai afastar Marcelo Rebelo de Sousa da RTP, agora, o director do JN censura um texto de Mário Crespo...Alguém pode lembrar ao senhor  primeiro-ministro que Portugal não é a Venezuela?  
Aparentemente, Sócrates apelidou Mário Crespo de “atrasado mental”. Não vou dizer que o acusador sofre do problema que imputa a outro. Recuso-me a descer ao nível do Chavez português. O problema de Sócrates é pior: falta de carácter. Desde as várias suspeições que sobre ele recaiem (respeitando, naturalmente, a presunção de inocência de que gozam todos os cidadãos) até estes pequenos episódios que mostram como encara a vida política e a sua forma de estar na vida em geral, fazem com que já não seja só a incapacidade política de Sócrates que nos deve preocupar: é o processo de degradação da democracia que impunemente está a levar a cabo. Repito: o primeiro-ministro tem um problema de carácter. Podem acusar-me de ser demasiado negativista. Mas, para mim, os actos definem uma pessoa: e os actos de Sócrates indiciam que não é confiável. Sibi imputet. ..

Apesar de tudo, acreditemos que há sempre alguns (até muitos) jornalistas que resistem/ Há sempre alguns (muitos) jornalistas que dizem não....

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