We live in interesting times...

Não, hoje não vou falar sobre o PEC (que não tem ponta por onde se lhe pegue) ou sobre a proposta de revisão do PSD - bastará dizer que num país onde será preciso cortar 10 por cento do PIB nas despesas, só para manter o stock de dívida pública estável, uma proposta de redução de 1 por cento, embora louvável é manifestamente insuficiente. Também não vou falar da exma. senhora Deputada Maria de Medeiros Inês de Medeiros, com o caso mais do que vergonhoso das suas viagens a Paris.
Os tempos interessantes estão noutro sitio: Internet.
Tempos interessantes... e caóticos. Comecei a usar a Internet muito precocemente, em 1995. Era muito novo, mas eram tempos bem interessantes. Duas coisas caracterizaram esse período: a primeira Browser War (Netscape versus Internet Explorer, donde, das cinzas da morte da Netscape nasce o Mozilla Firefox e do caos dessa guerra surgem as ferramentas para fazer a Web 2.0) e o caos dos motores de busca. Hoje toda a gente "Googla". Mas, na altura, o Google nem pensado era. Existia o Altavista, o Excite, o Lycos e o dominante Yahoo!. As buscas eram lentas - os motores de busca na altura funcionavam como um "índice", ao contrário do que ocorre hoje - e o ruido no sistema era, muitas vezes, insuportavel. O IRC (ou, como muitos erradamente lhe chamam hoje, o saudoso mIRC [que era o programa, não o serviço em si]) muitas vezes substitui-a os motores de busca como fonte de informação - não meninos, o Facebook, Hi5 e o Twitter nem sequer eram imaginados, quanto mais disponíveis. E uma pagina com algumas imagens era uma visão do inferno, dados os Modems lentos da época.
Nesta altura, em que sites vendiam por centenas de milhões de dólares na bolsa, toda a gente tinha o "seu" motor de busca, mas ninguém tinha percebido como fazer buscas relevantes e, mais importante, como fazer dinheiro com isso.
Até que surge a Overture com um conceito simples: buscas pagas e anúncios contextuais. Se eu buscava algo, então tinha uma intenção, pensou-se na altura. "Espera ai Guilherme!! Então não foi a Google que descobriu isso?". Não senhores, não foi! Então porque é que ninguém conhece a Overture e a Google é um gorila de 198 mil milhões de dólares? Porque a Google veio trazer ordem ao caos e ruido dos motores de busca, encontrando uma forma de procurar o conteúdo relevante e ignorar tudo o resto (o algoritmo PageRank, que se quiserem explico na caixa de comentários). E com isso, um modelo de negócio viavel e conteúdo relevante, a pequena startup dominou todos os players do sector, quase matando pai dos "motores de busca" Yahoo!.
O que é que isso tem a ver com o tempo actual? Hoje abri o computador, liguei o email, fui dar uma espreitadela ao Facebook e abri o Twitter. E veio-me à memória os velhos tempos de 1995/2000. O mesmo caos, o mesmo ruído (e não vamos falar do flop que foi o Google Buzz, que traz uma nova definição de ruído numa rede) e, um conjunto de "lideres" sem modelo de negócio. É que ganhar dinheiro como uma rede social não é igual a um motor de busca (sucintamente, quando mais agregadora uma rede, pior funciona como plataforma de anúncios). E ainda ninguém percebeu muito bem como fazer um modelo de negócios viável à volta desta consciência colectiva que são as redes sociais e como trazer o conteúdo util e ignorar o ruido (como exemplo, o Facebook neste momento sobrevive, enquanto negócio, graças à Microsoft que lhe garantiu as receitas até 2010). E, mais importante: estas redes sociais têm o potencial de matar negócios como o Google.
Logo a pergunta é: quem será o "Google" das redes sociais que trará ordem a este caos aparente e se tornará num gorila de milhares de milhões de dólares?
Interesting times indeed!