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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Portugal dos Pequenitos (I)

Miguel Nunes Silva, 04.05.10

Muitos dos estrangeiros que vêm a Portugal ficam agradavelmente surpreendidos pela beleza do nosso país e pela sua cultura única. Ao falar com estrangeiros sobre o nosso país, aquilo que mais os impressiona é o facto de termos conseguido manter tantas características únicas a par da modernidade. Uma comparação feita com Espanha facilmente nos privilegia pois Espanha industrializou-se e massificou-se mas em Portugal ainda se sente a aura tradicional que gerou o fado, a poesia e a nossa fantástica gastronomia.

 

Infelizmente, é também em parte devido à falta de desenvolvimento que Portugal mantém a sua nostalgia. Mas para o propósito deste post, aquilo que nos interessa não é o país mas as suas gentes, que vivem e sempre têm vivido à margem de tudo aquilo que se passa no exterior.

É particularmente angustiante observar debates entre candidatos a um cargo político no executivo de Portugal pois a realidade internacional fica sempre ausente, sendo que é talvez o factor mais importante para o nosso desenvolvimento.

 

O que é que o Caso Maddie nos ensinou? Nada. Quando muito, houve algum debate em torno do segredo de justiça e da política comunicacional (ou a falta dela) da Polícia Judiciária, debate que a comunicação social promoveu por interesse próprio ou por limitada argúcia.

 

Mas não aprendemos que basear grande parte da economia num sector como o turismo balnear internacional é vulnerável a fenómenos de massas. Os tablóides Britânicos tiveram toda a liberdade para denegrir Portugal e as suas autoridades judiciais sem qualquer tipo de reacção por parte de Portugal e dos seus representantes. Mais que tudo, o preconceito lusófobo foi patente na imprensa sensacionalista Britânica e ninguém se insurgiu contra tal fenómeno; certamente que não em Inglaterra e em Portugal tão pouco.

 

E que dizer de outros “casos” como a publicação de um artigo sobre as prostitutas de Bragança (?!...) na revista Time quase em simultâneo com a abertura do Euro2004 de futebol?

 

Ainda na calha está o escândalo financeiro em que Portugal está envolvido, com a especulação financeira a apostar cada vez mais contra a solvência do Estado Português, o que poderá ter consequências desastrosas para um país pequeno como o nosso, que não tem massa crítica suficiente para resistir durante muito tempo a forças externas.

 

 

Para os Portugueses no entanto, o mundo lá fora é de pouca importância. Não o conhecem, não querem conhecer e também estão pouco virados para eleger quem o conheça. Os Portugueses vivem numa redoma em paralelepípedo apesar de a componente internacional ser talvez a que mais dite o seu futuro. Porque grande parte – se não a maior parte – da nossa legislação vem de Bruxelas, porque a nossa moeda é controlada por Frankfurt, porque compramos armas em Washington, porque os maiores clientes da nossa economia vivem para lá dos Pirenéus e porque dependemos do terceiro mundo para abastecimento de energia.

 

Apesar de tudo isto, o Ministro dos Negócios Estrangeiros é sempre a figura mais popular de todos os governos. Os seus actos parecem grandiosos por estar frequentemente próximo de líderes internacionais e as medidas que aprova são tão abstractas que não parecem ter impacto directo no dia-a-dia do Português, uma vez que o escrutínio sobre o MNE é praticamente nulo (desvio o olhar com propósito para os membros da imprensa na sala…). Assim muitas carreiras foram feitas, como por exemplo a do agora presidenciável Jaime Gama.

 

Enquanto as crises internacionais forem produto do “azar”, enquanto os ataques especulativos forem alimentados pelas “conspirativas” firmas de rating, enquanto o nosso conhecimento de personalidades estrangeiras estiver limitado aquelas que sabem dar pontapés numa bola, continuaremos vulneráveis à mentalidade do “logo se vê” e à receita do “desenrasca”. Continuaremos …até não podermos continuar mais.

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