"O sangue vencedor que se não perde e a esperança de um futuro triunfal"
Bandeira bicolor desta nação, da pátria portuguesa gloriosa. Todo os soldado que a trouxer na mão há de a guardar ao alto vitoriosa. Ela é das suas cores vermelha e verde, o sangue vencedor que se não perde e a esperança de um futuro triunfal. Tinta do sangue, rubro dos combates, bandeira querida que jamais te abates, tu representas todo o Portugal. |
Amália Rodrigues - Tudo isto é Fado
Não adormeci sem ver o dia nascer. Sentei-me nas escadas de serviço do meu prédio, enrolada numa manta só para enganar a vista, e esperei. Não tinha pela frente uma visão mítica da bela Olissipo. Tinha somente as traseiras de mais prédios velhos, vividos, que teriam mil e uma histórias para contar se lhes déssemos voz para o fazer.
Uma criança perguntou-me há pouco tempo de quem eu gostava mais no mundo. Costumam perguntar-me porque é que me meto na política. Porque um dia apaixonei-me pelo meu país e um primeiro amor é difícil de se esquecer.
Numa cidade como Lisboa, não vemos o protótipo do povo português. Moram cá muitos tipos diferentes de pessoas, que não retratam sozinhos a realidade do país. Mas eu não conheço só Lisboa e dou-me ao luxo de pensar que até conheço o povo português.
Um sujeito que tem uma relação de amor-ódio com a sua nação. Que gosta de ser nacional deste país à beira mar plantado, porque é a casa dos heróis que imortalizados no Padrão dos Descobrimentos que ontem visitei, um dia passaram o horizonte e as fronteiras do imaginário. Mas este nacional, também odeia um país, que lhe podia dar tudo, mas que só o despoja da possibilidade de crescer e florescer.
Eu não me vejo na cauda da Europa. Mas sei que cada um de nós pode dar mais por Portugal e não dá. Talvez seja utópica uma sociedade em que isso acontece. Mas dar mais pelo país não tem de significar fazer política ou intervir. Significa sim produzir mais e melhor. Querer ser melhor. Não ter inveja do Sr. X porque é rico e querer que ele não seja rico, mas sim trabalhar para ser tão ou mais rico como o Sr. X.
Para a crise social, económica e política na qual creio que nos encontramos, vivemos num país moderadamente seguro, temos recursos e pessoal altamente qualificado que se vê obrigado a passar fronteiras para dar aos outros aquilo que nós deveríamos aproveitar e cultivar.
Num mundo globalizado em que as oportunidades não são fáceis de obter mas são sempre uma possibilidade lá fora, mandarmos quem não quer parar lá para fora é condenarmo-nos à morte. Parar é morrer. Eu não quero ter de trocar Portugal por uma nação fria em tempo, em cultura ou socialmente.
Acredito no meu país com unhas e dentes. Mas também acredito que devemos ser melhor governados e exigirmos que isso aconteça. Vivemos numa sociedade demasiado conformista. E o conformismo da população, foi e será sempre, um obstáculo à evolução. Temos que querer mudar para melhor e não deixar que quem influencia directamente se florescemos ou não, enquanto cidadãos e enquanto país, se deixe levar pela preguiça e só faça obras quando a casa começa a cair e não tem mais tecto para o proteger da chuva.
Vamos fazer mais pelo nosso Portugal. Vamos agir para respeitar quem por nós deu a sua vida. Quem ainda hoje acha que o país deve ser posto à frente da sua família, ou do dinheiro. Vamos parar de pedir esmola e trabalhar naquilo que há. Seja com uma enxada na mão (para quem passa as fronteiras para visitar nuestros hermanos vê bem a diferença entre os olivais de perder de vista e as plantações massivas que nós não nos esforçamos por ter e que nos auxiliariam a termos uma economia mais variada), seja com uma régua a ensinar o nosso futuro a trabalhar e a gostar de trabalhar pelo país e pelo gosto que dá poder ter um lar, ou com uma esfregona a limpar o chão, porque para mim vergonha é roubar e o trabalho é sempre digno.
Talvez um dia o meu sonho português se torne mais real. Talvez eu seja uma sonhadora, mas prefiro ser uma sonhadora, a desistir da terra que me deu e dá vida. Que faz os meus olhos brilharem e que me faz ter escolhido ficar quando teria sido tão mais fácil sair.
(Ao namorado: não te preocupes, que não te vou trair com o Portugal ;)