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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

O (pobre) Estado da Nação

André S. Machado, 15.07.10

 

O desemprego está a descer, a economia está a crescer, as reformas estão a dar resultados, tudo vai bem desde a educação até às finanças públicas. Isto é o Portugal de Sócrates, que hoje falou aos portugueses como o Primeiro-Ministro de um país sem problemas e no caminho do crescimento e do desenvolvimento.

Com números, estatísticas e projecções usou da sua notável (há que admitir) capacidade de argumentação e retórica para se destacar como o político do optimismo e da confiança, contra o "glamour do pessimismo". Mas não são longos e bonitos discursos, floreados com números e estudos comparatísticos, que trazem mais confiança aos portugueses. Antes são necessários resultados, que não se fiquem por abstractas percentagens, mas que se substanciem em algo de material na vida quotidiana de todos nós; Antes são necessários compromissos, que garantam estabilidade à vida dos portugueses; Antes é necessária sensibilidade social e política, para melhor legislar e governar.

 

A verdade é que a taxa de retenção e abandono escolar diminuiu nos últimos anos, é certo, mas continuamos a estar muito aquém da média europeia (o dobro) e o Governo quer encerrar ainda mais escolas e continuar na senda do conflito com professores, pais e alunos. A verdade é que a taxa de mortalidade infantil diminuiu nos últimos anos e que a esperança média de vida dos portugueses tem vindo a aumentar, mas o Governo continua a atacar o interior do país, encerrando centros de saúde e retirando cuidados médicos às populações mais envelhecidas. A verdade é que o número de licenciados continua a aumentar, mas o Governo pretende afastar um conjunto significativo de pessoas do Ensino Superior, diminuindo nos apoios sociais aos mais necessitados e dando um duro golpe na igualdade de oportunidades no acesso à formação académica. A verdade é que Portugal é um país relativamente seguro, mas o Governo corta no investimento nas forças de segurança, num período em que aumenta a criminalidade violenta e organizada. No fundo, há indicadores positivos para quase tudo e o jogo dos números ajuda à retórica, mas não basta puxar desses galões: é preciso conhecer o país e, mais importante, sentir o país.

 

No meio de tudo isto vemos um Primeiro-Ministro preocupado com crises políticas e com a sua manutenção no poder, numa altura em que até ele próprio sente que os portugueses já não se revêem nele e no seu governo. Mais que isso, vemos um Primeiro-Ministro elevar o "optimismo" como palavra de ordem, quando ele próprio sente que o país não está optimista, não está confiante e está longe de estar motivado. Na verdade, vemos um Primeiro-Ministro incapaz de "puxar pelas energias do país", quando ele próprio sente que é o país que não o quer a puxar por ele.

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