A luta continua, mas contra quem?
Depois de no final do mês de Julho quase todos os murais da CDU na cidade de Almada terem sido misteriosamente vandalizados durante a noite, a JCP e o PCP deram início no dia 6 de Agosto a uma jornada para repor todas a pinturas e completarem o seu espólio com ainda mais murais, reclamando Liberdade de Expressão na luta pelos trabalhadores “que se trava também com pincéis, sprays e moldes”.
A JCP afirma ser a única juventude partidária em Portugal a pintar murais e essa é uma imagem de marca que não querem perder. Os murais «obrigam as pessoas a pensar», disse um militante entrevistado para o Jornal Avante. É uma “uma excelente forma de demonstrar o vigor do Partido, cujos militantes estão na rua, a dar a cara”.
A luta pelos direitos dos trabalhadores feita através de murais? Que trabalhadores posso ajudar pintando um “Lenine” à porta de casa de alguém? E já nem vale a pena comentar o valor artístico-cultural dos murais ou das frases “Festa do Avante 2010” e “Não há festa como esta”, claramente carregadas de profundo significado artístico e um verdadeiro exemplo da política laboral defendida pelo PCP.
Álvaro Cunhal passou treze anos na cadeia por lutar contra o fascismo, sete dos quais em isolamento total. Foi preso pela primeira vez apenas com 24 anos. A isso é que se chama “luta”! Recusou-se sempre a falar sobre si próprio, dando todo espaço que lhe era dedicado à divulgação de um ideal e a única vez que o fez disse apenas morrerei comunista.
Este jovens, sem qualquer motivação política, são recrutados nos portões das escolas. Nunca foram a uma assembleia municipal, não têm qualquer bandeira, projecto, ideia ou opinião sobre Almada. Nunca denunciaram problemas, nem se preocuparam remotamente com isso. São o espelho desta juventude partidária que se arrasta na sombra de um partido de moribundos. Resumem-se à pura existência e a sua única actividade é fazer pinturas. É esta a juventude do mais antigo partido português…
Militão Ribeiro foi um destacado dirigente comunista que morreu em Janeiro de 1950, no decurso de uma greve de fome na Penitenciária de Lisboa. Momentos antes de falecer, escreveu uma carta com o seu próprio sangue aos camaradas de partido:
«… Tenho sofrido o que um ser humano pode sofrer. Nem sei como tenho tido forças para tanto. Mas com todo este sofrimento nunca deixei de ter fé na nossa causa. Sei que venceremos. Desde sempre mantive a disposição de dar a vida pelo Partido em todas as circunstâncias, assim como a dou de forma horrível e cheia de sofrimento. Mesmo quase já um cadáver ainda fui esbofeteado por um agente. Dores, insónias, fome, agonias, tudo tenho sofrido nestes sete meses, quase sempre de cama, sem me poder mexer…».