A cidade mais bela do mundo
Para mim é Lisboa. Duas semanas no Algarve, onde quase nasci e quase vivi. Estou desesperada por voltar a Lisboa. Às rotinas diárias, ao stress quotidiano, à política que tanto adoro, ao 28E e à vida que pela capital me espera.
Em tempos costumava fazer visitas guiadas pela cidade, pelas colinas e vales, estátuas e igrejas. Miradouros, teatros, o encanto do rio, o encanto de Belém. A história da cidade espantava os turistas, o orgulho de a saber alegrava-me a mim.
Há pouco tempo voltei a fazê-lo: a estudantes de Direito dos mais diversos cantos da Europa. Até num eléctrico tive oportunidade para conversar com uma citadina simpática que concordava comigo - os lisboetas não conhecem a cidade, mas também não querem.
Ainda hoje quando tenho tempo apanho o eléctrico para a Graça, depois de uma oração em S. Roque, para me sentar a beber uma imperial ao pôr-do-sol ou no miradouro de N. Sra. do Monte. Depois desço Alfama.
Ou então, se estou mais triste vou para o meu cantinho cosmopolita - o Chiado - arranjada com uns bons saltos altos, capricho que a zona bem merece.
Mas entristece-me que a cidade em que vivo, se esqueça dos seus, se esqueça que a história por lá passou. Lisboa podia brilhar, mas não brilha. E a este ritmo, não mais brilhará.
Lembro-me em tempos de passear pela Av. da Liberdade. Um passeio que costumava adorar antes de me apaixonar pela Graça, que incluia um gelado (fizesse chuva ou sol, frio ou calor), apreciar as montras, passear um bocado e admirar as flores. Não era só eu que admirava as flores que no mandato de Santana Lopes, irradiavam a beleza de algo tão natural e tão perfeito: japoneses de lente xpto em punho ajoelhavam-se, rebolavam, rastejavam, para capturar aquela perfeição, num lugar tão perfeito, como é a artéria da cidade.
Também me lembro de ser muito menina e de perguntar ao meu pai se a cabeça do Sá Carneiro estava mesmo decepada e pendurada na Praça do Areeiro. Rindo-se, respondeu-me que não. Aquilo sempre me pareceu horrível.
Depois de ter lido este artigo fiquei ainda mais triste, mais desiludida. Transcrevo-vos um pouco:
"O prédio onde morreu o escritor Almeida Garrett, na Rua Saraiva de Carvalho, não teve a mesma sorte [...]. Foi o caso mais polémico dos últimos anos. Quiseram demoli-la em 1971. Não conseguiram. Voltaram a tentar. E, depois de petições e pareceres, a casa desapareceu, em 2006. No local existe hoje um condomínio privado."
É com choque, que também descubro que lisboetas, portugueses (!), nem sabem que o Teatro Nacional D. Maria II foi erigido sobre um Palácio da Inquisição, ou que foi palco para Almeida Garrett, responsável por criar o belo monumento que ostenta a Praça D. Pedro IV, que muitos também não sabem onde é, mas por ela já passaram.
O que será de Lisboa, quando aqueles que a história e a cidade decidiu imortalizar, forem esquecidos pelo tempo e pela negligência?
Não sei, mas continuo a amar Lisboa. Só gostaria que quem passa pela cidade ou quem nela mora, visse a riqueza de uma capital que tem mais que a vida nocturna e os centros comerciais.