E a culpa… é dos jovens?
Ouvimos todos os dias que a democracia portuguesa se debate com um problema estrutural: este regime, cujo objectivo é colocar nas mãos dos cidadãos as decisões mais importantes da colectividade, não tem sido capaz de mobilizar ou motivar a participação do povo nas causas públicas.
Mesmo que assim não fosse, a corrente preocupação com os escassos níveis de participação política dos jovens portugueses e o seu distanciamento face às instituições políticas, coloca-nos a seguinte questão: estaremos nós a perder essa massa crítica e a desperdiçar inevitavelmente uma geração que é a principal construtora do Portugal de amanhã?
Já há algum tempo me tinha debruçado sobre esta questão e fiquei inesperadamente surpreendida quando conclui que a falta de participação política é um problema transversal a toda a Sociedade Portuguesa, e não característico ou claramente mais acentuado nas camadas jovens. (Estudo do Centro de Sondagens e Estudos de Opinião da Universidade
Católica Portuguesa – Jovens e a Política, Janeiro 2008). São aliás os jovens, que têm uma visão mais optimista do Estado actual e futuro da nossa democracia. São também estes que mais apoiam a implementação de reformas profundas para Portugal. Mas não será uma contradição serem estes, os jovens, os que menos contribuem com o voto para a vida democrática?
Não necessariamente. De facto, os jovens colmatam a falta de participação nos meios convencionais de intervenção política, mantendo uma participação no associativismo e voluntariado claramente superior à dos grupos etários mais elevados da camada social, o que denota uma vontade de participação e actuação, apesar de não dominada pelos meios convencionais de participação politica.
Mas será que é normal que assim seja? Não deveriam os jovens Portugueses participar mais que os seus pais? Não deveria a sua participação ser vincadamente mais politica tal como era a geração dos seus pais há 30 anos atrás?
Não creio que os jovens tenham perdido a sua irreverência! Não terão estes perdido, sim, o palco onde se mover e a capacidade de intervir?
Temos de ir mais fundo e entender as suas motivações…Para responder a estas questões fiz um pequeno questionário, a título particular, e conclui o seguinte:
- Dentro do grupo dos jovens que questionei cerca de 80% não pertence a um partido político, 50% pertence a uma associação/movimento cívico.
- As razões para não participar em nenhum partido político, prendem-se, essencialmente, com a falta de confiança na política e nos políticos, na fraca identificação com os partidos e com a actuação dos seus representantes.
- No entanto, 90% dos inquiridos afirmou que gostaria de ter uma intervenção cívica mais activa nos problemas do país. A sua opinião é de que jovens não intervêm mais na vida pública essencialmente por descrença nos políticos e falta de formação/sensibilização.
Restam-me algumas questões... Não serão os mesmos que acusam os jovens de não participar na vida pública os que limitam a sua participação? Não sentirão os jovens que a luta politica lhes é demasiadamente longínqua, ou demasiadamente perdida, para desperdiçarem as suas energias, refugiando-se em modos de participação mais gratificantes no curto prazo?
Não terão as “Jotas” que reforçar o seu fulcral papel na aproximação dos jovens à política, mostrando-lhes as oportunidades de actuação que podem oferecer?
Sinto que somos, hoje, jovens conformados com a liberdade conquistada pelos nossos pais!
Mas faltam cumprir-se muitas liberdades!
Somos hoje um país sufocado por uma crise económica que nos obriga a ser reactivos...não pró-activos! Somos hoje um país que vive, dia a dia, a luta contra o monstro da dívida, da despesa, do desemprego, do défice... O nosso Ministro das Finanças já chama a esta luta um dejá vu!.. Andamos de dejá vu em dejá vu, mas não valeria antes a pena sermos os donos do nosso destino? Começarmos já, agora, a fazer História?
Os jovens estão longe… porque não se revêem neste país pobre, tíbio e conformado, mas nem por isso pensem que os jovens se vão demitir das suas responsabilidades!
“É este o momento que nos é dado, a oportunidade que nos é oferecida de procurarmos tomar o destino nas nossas mãos.” Francisco Sá Carneiro
PsicoConvidada: Filipa Almeida