"Há para aí um sururu" cantavam as Tayti ontem à tarde na televisão pública. Há, de facto!

Infelizmente, em Portugal, há uma tremenda falta de estima pelo espaço público, serve prova a sujidade das ruas ou a selvajaria nas estradas. A confusão em torno do serviço público é mais um sintoma... O português olha para o serviço público prestado pelo Estado como uma borla, admitindo por vezes o mau serviço sob a égide da velha máxima "É mau mas é de borla...". Só assim se explica, aliás, o espantoso sucesso do tremoço neste país...

A RTP não foge a este debate. Um passar de olhos pela grelha de programação devia embaraçar os próprios administradores da empresa quando se apresentam como um canal prestador de serviço público. É certo que desde Morais Sarmento a coisa mudou muito, e para melhor. Hoje em dia a informação tem mais espaço na programação, o que é de salutar. No entanto, pelo meio levamos com o Fernando Mendes a adivinhar o preço de um frasco de Pensal e a Nayma à procura do próximo designer de moda. Entretenimento legítimo, sem dúvida! Enquanto isso vou procurar o 60 minutos ou o Toda a Verdade à Sic Noticias, para buscar trabalho de investigação jornalística.

Privatizar a RTP? Deus nos livre, ainda que se possa admitir... Eu não vejo razão atendível, passe a provocação, para que se mantenha um canal de televisão pública, quando este compete pelo mercado publicitário como os privados, levando a que, naturalmente, molde a sua grelha de programação para lá da sua missão! Não será mais eficiente privatizar a estação e contratualizar aos privados (nos canais generalistas, claro está) horário na sua grelha de programação para a emissão de conteúdos que se entendam, claramente, como serviço público? O estado que promova o jornalismo de investigação, o cinema português, as artes performativas nacionais e as difunda pela rádio e televisão! Deixemos aos privados os shows de variedades!