Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

Alguém leu o relatório?!

Guilherme Diaz-Bérrio, 29.09.10

Adoro a politica em Portugal. É daquelas coisas giras de assistir. Todos são especialistas em tudo - podemos chamar-lhe o "complexo Marcelo" - e ninguém lê os documentos de que fala.


Caso em ponto: Relatório da OCDE. Será que alguém leu o dito documento? Vamos dar, aqui no Psico, uma voltinha ao dito documento:

“To rebalance the Portuguese economy and move towards a higher and sustainable growth path, rapid consolidation of the public finances is essential (1). Consolidation measures should continue to be strictly implemented, preferably through expenditure restraints (2), but the government should stand ready to curb tax expenditures and raise the least distortive taxes if needed.

A OCDE afinal não diz para subir impostos como gente grande. O que a OCDE diz é que a Despesa deve ser controlada e reduzida, e se necessário em ultimo caso, aumente-se os impostos que menos distorcem a economia. Vai mais longe - o relatório - sugerindo que se subam impostos sobre o consumo para reduzir impostos sobre o rendimento, esses sim uma amarra enorme na vida do Português, e o fim de deduções para simplificar e reduzir custos fiscais. Um pouco diferente do spin nas noticias.

“The fiscal deficit started to deteriorate in 2008 and reached 9.3% of GDP in 2009. This followed a large fiscal consolidation in 2005-07 and, to some extent, was induced by measures that were not directly related to the crisis, such as a cut in VAT and a sizeable (2.9%) wage increase for civil servants in 2009. (3)“

Este ponto é interessante. Então parece que afinal, para a OCDE, a culpa desta derrapagem das contas públicas de 2008-2010 não é só devido à crise financeira, como apregoado pelo PS. Parece que o PSD tem tido razão nos últimos 2 anos: O aumento eleitoralista de 3% nos ordenados da função pública, a descida - também eleitoralista - do IVA, pesou. E muito! Aqui é melhor nem fazer spin, mais vale não dizer, não é?

“Increases in unit labour costs have been due both to a disappointing productivity performance and to insufficient wage moderation, where pressures from the sheltered sectors (including the public sector) are likely to have played a major role. (5)”

Campos e Cunha, Medina Carreira e Vítor Bento são alguns economistas que estão sempre a bater nesta tecla. Eu tenho feito eco disso aqui no Psico em alguns posts e comentários passados sobre esta temática: a protecção de alguns sectores - sector não transaccionavel - coloca uma pressão nos salários e preços, canibalizando o sector transaccionavel, o único que exporta. Isto provoca desníveis salariais graves e um défice externo estrutural.

“…the fall in energy imports and the development of energy-related industrial clusters with export potential need to be weighed against more expensive electricity from renewable sources (at least at current oil prices) and the opportunity cost of resources channelled into renewable energy. (6)”

Parece que o grande avanço português nas ventoinhas tem custos. Quelle Surprise. Mais um ponto para Sócrates?

“Continuing to implement the consolidation measures in a strict way is essential to secure fiscal sustainability, even if the cyclical situation turns out worse than expected. Otherwise, the financing conditions for both the public and private sectors may deteriorate substantially, with a sharp increase in risk premia and severe consequences for economic growth. (7)”

Num post passado comentei isto: Finanças públicas instaveis levam a maiores taxas de juros. Isto conduz a um maior custo para a economia, na sua globalidade. Quanto maior o juro, mais o País "trabalha para aquecer" e pagar dívidas. As consequências são persistentes. É economia básica e aqui a OCDE faz eco disso.

 

Agora, eu entendo que o Governo, e o PS, tenham tentado fazer o "spin" do relatório. Ele não lhe é nada favorável. O relatório mostra que a política fiscal, financeira e económica do Governo, tem sido irresponsável. Isto eu entendo.

 

O que eu não entendo, é porque é que o PSD reage com:

“É extraordinário como há uma discrepância tão grande entre o que está no relatório e o número de propaganda que o antigo ministro das Finanças do Partido Revolucionário Nacional do México veio fazer a Lisboa”, disse Nogueira Leite.

 

Em vez de irmos buscar o conteúdo, que nos era vantajoso como aqui está demonstrado, pois atesta ao que o PSD tem vindo a dizer nos últimos anos, fomos fazer um ataque ad homine ao secretário-geral de uma organização internacional respeitada. Tinhamos, neste relatório, a oportunidade perfeita para dizer a Socrates: "Está a ver como não tem razão? Não é só o PSD que o diz. Leia, que este relatório é mesmo da OCDE".


Agora, transformámos este relatório numa troca entre quem ataca o secretário-geral da OCDE (PSD) e quem o defende (PS), criando ruído para que o dito documento, critico para com a política socialista dos últimos 15 anos, cai-a em saco roto.

 

Desnecessário diria eu!

10 comentários

Comentar post