A República
No dia 4 de Outubro de 1910, a bandeira nacional que hoje conhecemos foi hasteada nos paços do concelho de Almada, tomado de assalto por 10 mil pessoas e a banda da Sociedade Filarmónica Incrível Almadense tocou pela primeira vez em todo o país A Portuguesa. Por isso, na minha cidade celebra-se com especial fervor esse momento. Durante os festejos, ouvi estas palavras, escritas e lidas por um rapaz de 18 anos:
“Uma história depende totalmente do modo como esta é contada. Durante cem anos, apresentou-se a nossa monarquia como um modelo político inútil e inimigo do povo, sendo incapaz de governar e de resolver os problemas do país, afundando-o em “jogos mesquinhos de interesses”. Mas a nossa 1º República também não os soube resolver.
Portugal vivia um clima de grande instabilidade e foi nesse contexto que a República nasceu, não para servir os interesses de certos e determinados grupos sociais mas sim os interesses de uma nação. Contudo, devo lembrar que ninguém governa inocentemente. Aquele que acaba por ter razão, começa por parecer estar errado e ser prejudicial. Mas quem terá razão? Só se saberá mais tarde. Entretanto, estamos condenados a actuar a crédito na esperança de obter a absolvição da História.
A política pode ser realmente justa nos períodos de maior calma da História; mas, nos seus pontos críticos de viragem, não há outra regra possível que não seja a antiga regra que diz que os fins justificam os meios. A História mostra-nos que até a própria Igreja a usava quando via a sua existência ameaçada: deixavam de vigorar os mandamentos da moral, pois o objectivo da unidade santificava todos os meios, quer estes fossem a astúcia, a traição, a violência, a prisão ou a morte. Pois a ordem em função da comunidade existia e o indivíduo devia ser sacrificado ao bem comum.
Os primeiros anos desta jovem República não foram fáceis e apenas trouxeram sangue, lágrimas, medo e suor. Contudo, é com alegria e solenidade que comemoramos esta data tão especial na nossa História. Devemos o 5 de Outubro a todos os Homens e Mulheres que escolheram a esperança em vez do medo, lutando pelos seus sonhos e pelo seu país. (...)
(...) Podemos ser uma República democrática jovem mas chegou a altura de se reafirmar – e passar às novas gerações – aquela ideia nobre, aquela promessa de que todos são iguais, de que todos são livres e de que todos merecem uma oportunidade de tentarem obter a sua felicidade. Isto porque aqui, em Portugal, na nossa República Democrática, cada um desenha e projecta o seu próprio futuro.”
Hugo Marques