É preciso legitimar a democracia!
Manuel Maria Carrilho assinou, ontem, um texto de opinião no Diário de Notícias intitulado "É isto, a democracia?!...". Neste texto faz uma reflexão pertinente sobre duas legitimidades em democracia: a do voto (eleitoral), e a da acção (executiva).
Na sua opinião, em Portugal, é demasiado relevada a primeira e subvalorizada a segunda, criando um fosso entre o voto e o resultado.
Conclui correlacionando esta análise da(s) legitimidade(s) democrática(s) com outra: a fraca participação dos cidadãos na vida partidária. Avança ainda uma comparação: "nas últimas eleições primárias americanas participaram 18,5% dos americanos, nas directas dos dois principais partidos portugueses intervieram 0,65% dos portugueses".
Esta reflexão é importante e é necessária. Mas não é uma reflexão necessária aos partidos políticos. É uma reflexão necessária aos cidadãos, a cada um de nós que pelo poder do voto legitimamos a democracia. O problema é o depois. O problema é o alheamento posterior à acção governativa, perante as dificuldades, perante as responsabilidades. Quantos portugueses escreveram uma carta ou um e-mail ao deputado que elegeram? Quantos portugueses foram assistir a uma assembleia de freguesia? Quantos portugueses assumem a sua militância ou a sua ideologia política no dia a dia, perante os amigos, perante a família, perante os vizinhos, perante os colegas? Quem assume essa responsabilidade, legitimando a democracia em que vive? Provavelmente aqueles 0,65%...
A democracia em Portugal é vivida pela crítica. Há uma voz crítica constante à política. Há intolerância ao debate político. Porque o povo legitima o poder pelo voto, numa noite eleitoral, e a democracia acaba ao raiar do novo dia. Na manhã seguinte já não se distingue entre os que ganharam tacho e os que o invejam. Há um complexo na vivência política que Portugal teima não ultrapassar.