"A estupidez não é um dever. É um direito!"
Já não posso precisar se foi exactamente assim que o Prof. o disse. Mas a mensagem implícita fez-nos soltar umas gargalhadas no Auditório 3.
Aquelas aulas às quartas eram sempre interessantes. Entre as várias optativas do meu primeiro ano em Direito, uma delas era a cadeira de Questões Fundamentais da Construção Europeia. Foi o último ano do curso a ter essa optativa e eu tive a sorte de a frequentar.
Nas aulas, o Prof. Ernâni Lopes contava-nos História e as suas histórias. A sua experiência durante a integração de Portugal nas Comunidades Europeias, deu-lhe toda uma vida de histórias para nos contar, ao mesmo tempo que íamos construindo o caminho que dava logar à UE de hoje.
Foi com a maior tristeza que tive conhecimento do seu falecimento. Um linfoma tirou-lhe a vida e tirou-nos a nós a oportunidade de aprender com ele.
Citando Vítor Martins, ex-secretário de Estado para da Integração Europeia e dos Assuntos Europeus, "teria sido impossível a nossa adesão sem a sua visão estratégica e a sua determinação negocial. O seu percurso de vida, como economista, como ministro, como diplomata, como negociador, como estratega, deu-lhe uma autoridade moral unanimemente reconhecida. Essa voz poderosa, enérgica, esclarecida vai perdurar. Importa continuar a ouvi-la."
Mais do que um homem, um legado
Ernâni Lopes licenciou-se em Economia, pela UTL, tendo obtido o grau de Doutorado em Economia pela UCP.
Foi docente e assistente, não só da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais, como do Instituto de Estudos Políticos da UCP, do qual era Director.
Era conferencista no Instituto de Defesa Nacional, no Instituto de de Altos Estudos da Força Aérea, no Instituto Superior Naval de Guerra, bem como no Instituto de Estudos Avançados do Exército.
Docente no Instituto de Estudos Europeus de Macau, e director do Instituto Superior de Gestão Bancária, foi conselheiro do Banco de Portugal, embaixador de Portugal em Bona, e Embaixador na Missão Portuguesa de Integração nas Comunidades Europeias.
Ex-ministro das Finanças e do Planeamento do IX Governo Constitucional, o seu ministério ficou conhecido como o único, até ao momento, a sofrer a intervenção do FMI, pelas dificuldades que no país se passavam.