Um Nobre desastre...

Arrancou ontem a ronda de debates entre os candidatos à Presidência da República. O arranque, com Fernando Nobre e Francisco Lopes, foi morno. Um, veterano da cantilena comunista, mais orgulhoso da tradição de luta que cioso dos propósitos a que se candidata. O outro, claramente mais motivado para o cargo que para o debate político.
Porém, o debate permitiu antever um possível desastre eleitoral para Fernando Nobre. Ontem, Nobre quis ser tão esquerdista quanto Francisco Lopes. Esgrimiu argumentos contra o Orçamento, recusou mudanças ao Código do Trabalho e defendeu a luta dos trabalhadores. Ontem quis ser de esquerda com o Francisco Lopes, amanhã quererá ser de direita com Cavaco... Apesar de ter a seu favor o discurso do currículo e da liberdade de uma candidatura independente, Fernando Nobre só cativaria o voto se mostrasse claramente um posicionamento ao centro, responsável e moderado. Não perceber isto, é um prenúncio de desastre e justifica os escassos 8% que representa nas sondagens, claramente aquém do que o seu currículo mereceria.
Para lá do posicionamento político cometeu o terrível pecado do populismo: cavalgou a sua ímpar experiência pessoal e profissional de uma forma indecorosa e deselegante publicitando os moribundos que lhe pereceram nos braços, os cadáveres que viu esmagados em cenários de catástrofe natural ou a fome que levou uma criança a correr atrás da côdea de pão no bico de uma galinha... Cavalgou ainda a sua independência partidária para atacar os partidos políticos enquanto principais responsáveis pela situação a que chegou o país, num exercício irresponsável e demagógico de quem em 35 anos de democracia sempre participou activamente na vida política.
Por tudo isto, não posso concordar com a análise reinante de que Fernando Nobre saiu vencedor do debate de ontem, mas antes que perante um candidato pouquíssimo preparado do PCP não conseguiu elevar a sua candidatura para o patamar que se esperava. Neste momento, Fernando Nobre representa apenas um voto de protesto.