o meu Natal...
Eu adoro o Natal! Não haverá nenhuma outra data ou tradição que personifique melhor o conceito de família, paz e tranquilidade. E isto basta para justificar a data. Assim, apesar do meu Natal ser vivido aquém da questão religiosa, vivo confortado e agradecido à doutrina cristã por me proporcionar este dia.
Por outro lado, o Natal é o catalisador perfeito para a caridade. E esta revolta-me! A caridade é tão desprezível quanto a própria indigência, porque partilham a mesma génese: a miséria humana. Abomino a caridade porque é resultado do conforto de uma sociedade que vê na indigência uma fatalidade e não um problema. O acto de caridade, na sua génese católica, remete mais à expiação do emissor que à necessidade do receptor. Por isso a caridade me causa uma tremenda aflição. Porque é a melhor forma de nos reconciliarmos com a pobreza extrema, porque é a melhor forma de renunciarmos ao seu combate.
O Natal é tempo de família e de solidariedade. Solidariedade não é caridade! A primeira tenta unir as pessoas pelo sentimento de fraternidade, compreensão e combate aos problemas vistos como comuns; a segunda institucionaliza as diferenças sociais como fatais, e tenta dignificar aos olhos de quem dá a indigência de quem vive. Uma sociedade que verga à caridade, é uma sociedade estratificada nas suas desigualdades. Este sentimento é tão simples de descrever quanto a experiência de quem passa na rua por um sem abrigo: há os que pensam "Coitado! Pobre infeliz...", e há os que pensam "Que lhe terá acontecido?".
Há que combater a pobreza extrema, porque ela não é fatal.