PsicoConvidado Guillaume Tell
Antes de mais queria voltar a agradecer aos Psicóticos de me darem esta oportunidade maravilhosa de poder escrever um texto para o blogue que tão bem geriram e que sempre que o leio, é um momento de alegria e de prazer. Mais uma vez, obrigado.
Tendo nascido e sempre vivido no estrangeiro, tenho por isso uma visão diferente do que é Portugal e os Portugueses em relação aos que lá vivem. Tenho uma visão própria, mas por muito inteligente que eu possa ser, ou acreditar ser, que é largamente influenciada pela a minha “classe social”. Os jovens luso-descendentes. Assim, sofro também das mesmas alucinações que se costuma encontrar entre aquela “classe”; tenho tendência em acreditar que Portugal é um lugar porreiro, onde faz sempre calor, as raparigas de lá são muito bonitas (para não dizer outra coisa que só é visto como um elogio entre as hostes masculinas) e onde as festas são espetaculares. Mas isto é a visão positiva, a visão negativa costuma ser de ver Portugal como um país pobre, onde se ganha pouco e onde há pouco emprego, onde as pessoas vivem em aldeias de uma maneira que só vemos no curso de História, e cuja cultura se chama Tony Carreira ou/e rancho.
Bom, diga-se a verdade, isto é mais a maneira como representamos o país na brincadeira do que a visão que temos realemente dele, mas digo-vos isso porque que os luso-descendantes têm tendência a sobreavaliar as qualidades e os defeitos dos “tugas” e da terra onde eles moram. Mas para a voltar a mim, que partilha também estas caractéristicas, tenho um defeito suplementar; tendo a demasiar idealizar positivamente o meu país de origem e a criticar excessivamente os que criticam Portugal. Por isso, descidi por uma vez me pôr na pele de aquela gente, e vou assim vos dar o maior número possível de defeitos ou particularidades (verdadeiros, falsos, conhecidos, desconhecidos, reais, imaginados, fiéis ou exagerados) que são apontados aos Portugueses.
1) O que se tem de fazer para ser promovido socialemente em Portugal : ser filho de gente “famosa” , ter um título de “senhor doutor”, de “senhor engenheiro” ou de “senhor professor”, ou ainda ser amigo do Presidente da Câmara.
2) Gozamos do trabalhador sério e competente, desconfiamos do empresário que subiu por seu próprio pulso e que paga sálarios elevados, mas simpatizamos com o trabalhador preguiso e fraudor, e toleramos o empresário ladrão e explorador.
3) Louvamos o que vem do estrangeiro, mas nem pousamos o olhar no que é nacional.
4) Fazemos tudo para que o feirente nos venda o cinto a menos de 10 euros, mas orgulhámo-nos de ter dado 500 euros por um saco vindo de uma loja da Louis Vitton que usaremos duas vezes na nossa vida; para o mostrar no emprego depois do ter comprado e para o deitar ao lixo quando terá passado de moda.
5) O orgulho não vem do bom trabalho ou do sucesso nos negócios, vem da TV Cabo piratada e do roubo ao Estado.
6) Achamos que o Estado tem que estar em qualquer lado e nós apoiar em tudo e mais alguma coisa, mas avós são esquecidos, paises não são respeitados e filhos não são bem encaminhados.
7) Extasiamos com o futebol, que só nos deu verdadeiros motivos de alegria por 8 vezes em 50 anos (no meu caso só por 5 vezes e só pude aproveitar de 2), e saltamos as páginas da Bola, do Jogo ou do Record que falam de mais um título no atletismo ou nos remos.
8) Somos preguiços e ladrões no nosso país, escravos e ingénuos no estrangeiro.
9) Ainda desprezamos o que é o Herman e o que fez a professora de Mirandela, mas não prestamos atenção ao violador e a mulher violentada.
10) Somos os melhores amantes do mundo, mas os piores esposos do mundo.
11) Temos a mânia de nos queixarmos, sem nunca propormos soluções, mas não convidamos ao café aqueles são o exacto contrário do que venho a dizer.
12) Não passamos da cepa torta, dizemos entre nós, mas somos os mais bónitos, mais simpáticos e os mais engraçados quando estamos com os outros, inclusive aos olhos deles.
13) Fartamo-nos de limpar a casa, de fazer boas recepções e de estarmos bem vestidos, ao mesmo momento deitamos o lixo para o chão, enchemos os nossos rios de porcaria e deixamos as florestas queimar.
14) Dizemos que apesar de tudo gostamos de Portugal e de temos orgulho de sermos Portugueses. Mas então porquê que só dizemos isso no avião?
15) Argumentamos que os políticos são todos corruptos e incomptentes, mas na hora de tomar decisões chamamos logo o chefe.
16) O fado é um lema que nos aprendeu a sermos infelizes na felicidade e felizes na infelicidade.
17) Explicai-me porquê gostamos tanto de velocidade e somos tão pouco productivos?
18) Não gostamos do estilo de vida dos ricos, gostamos mais de o imitar.
19) Sou originário de um país onde civismo e planeamento são palavras estrangeiras.
20) A nossa visão da cultura resume-se às festas populares e à leitura dos desportivos.
21) Cafés e centros comerciais são os sítios onde passamos mais tempo, a seguir à cama e o emprego (menos para os que trabalham em cafés e em centros comerciais claro).
22) No Sul-Oeste da Europa tudo é “popular”, o “chique”é feito lá em cima.
23) Há três coisas em que nunca chegamos atrasados: missa, futebol, cinema. O resto? Já vou...
24) A religião é sinónimo de festa e convívio, antónimo de reflexão.
25) Gostamos de falar do passado grandioso, feliz ou engraçado. Futuro é o que fazemos no próximo fim-de-semana.
...
E podia continuar assim durante horas, e horas... Mas antes de terminar vou vos dizer em que pensais agora:
“Lá vai ele nos sair a rifa com que podia continuar a falar das qualidades dos Portugueses durante o tempo igual”, ou “Vai dizer que se mudassemos não seriamos Portugueses, pfff”, ou “Que isto é que faz a nossa beleza, diz o estereótipo do alegre patriota”, ou esta ainda “Apostas que vai dizer que temos de criar um contexto em que estes defeitos se tornem qualidades?”. Mas também oiço quem pensa: “Mas esta lista já se ouviu de uma outra forma à cerca de outros povos! Outro que não viaja”, ou “Mas o que vale esta lista, ao catalugar assim o povo quando se sabe que os povos são antes de mais um conjunto de indívidualidades? Preconceitos é tudo o que é!”, ou esta ainda “Bah! Como se outros povos não tivessem defeitos parecidos mas que estão bem na mesma”, ou esta mais “pessimista” “Vai dizer que a crise é uma oportunidade para mudarmos blablabla”.
Pronto, o que faço agora? O que faço é o seguinte: voltai a ler esta lista, pensai bem em TUDO o que disse e olhai se não vos identificais a uma ou outra das frases que eu escrevi. Não houve algo que sorriu ao interior? Não sentiram uma certa alegria nas profundezas do vosso espírito?
Não? Ó pá tú não és português, como é que poderias preceber alguma coisa nisto?!
Porque a felicidade se obtém graças aos outros.
O PsicoConvidado Guillaume Tell