"The status quo is simply not sustainable."
Os US já perceberam. A Europa ainda está a tentar perceber...
Os protestos contra Mubarak continuam e os motivos e a estratégia dos protestantes começa a tomar forma. Um breve olhar pela imprensa norte-americana mostra que os receios iniciais em relação às motivações extremistas dos protestos estão a dissipar, sobretudo depois de o líder da Irmandade Muçulmana garantir em entrevista à CNN que o movimento que lidera não reclama dividendos políticos das manifestações que estão a ter lugar e não pretende apresentar candidato às eleições presidenciais reivindicadas pela população. Já se percebeu também que os protestos nas ruas do Egipto nada têm que ver com o conflito israelo-árabe.
Nestes protestos não houve bandeiras norte-americanas ou israelitas queimadas na rua. Não houve cartazes de líderes religiosos. Não houve bandeiras da Irmandade Muçulmana entre a multidão (ao contrário da Jordânia). A leitura da revolta é agora assumida como uma pretensão da camada mais jovem da população por um regime político democrático, onde a figura de Mubarak é um símbolo que é necessário derrubar. Definem-se dois players nesta revolução: os jovens revoltosos e o exército. Para os jovens, a saída de Mubarak não é negociável, e a solução constitucional de resignação do Presidente no Vice-Presidente eventualmente trará calma às ruas... por agora. Porém, caberá ao exército pôr fim ao impasse. Se Mubarak não resignar o exército terá de optar entre forçar a saída do actual Presidente, ou exercer a força sobre os manifestantes para acabar com o protesto.
Porém, levanta-se uma incógnita sobre esta revolução egípcia: onde acaba o protesto dos jovens? Esta multidão não tem representação nos partidos políticos. El Baradei, que encabeça até ao momento as pretensões de diálogo e mediação por parte dos partidos da oposição não representa as ruas e os jovens. A pergunta que todos colocam é: a queda de Mubarak será suficiente para levar a calma às ruas do Egipto? Acredito que é esta a pergunta que o exército egípcio procura responder. Tem havido uma constante tentativa de diálogo por parte de militares com os protestantes, fazem-se apelos à desmobilização dos protestos. Essa resposta porá fim ao impasse e condicionará profundamente o futuro do Egipto e de toda uma geração de jovens. O radicalismo islâmico parece não ter tomado esta geração a pulso. Ao invés de cartazes com mensagens de fé, vêem-se cartazes de agradecimento ao Facebook. Cabe ao Ocidente dar a mão a esta geração.