As Gerações estão à rasca
Pelas 13 horas, os jornalistas anunciavam que não havia quase ninguém pela Av. da Liberdade.
Quando cheguei, às 15, o cenário era completamente diferente. A força policial não era grande, porque pelo que depreendi, não se estava à espera de tamanha adesão.
Mas uma manifestação convocada por 4 jovens, não por um partido ou uma associação sindical, conseguiu reunir nas ruas pessoas de todas as idades, pais e filhos, jovens e menos jovens. Uns para demonstrar a sua indignação através de cartazes representativos "Pai e mãe, preciso de um emprego!", outros "Contra a Corrupção", outros ainda contra a "Precariedade" ou que "Maçonaria = Máfia". Porém, no aglomerado de pessoas, havia também quem só queria dar apoio ao movimento. A Geração à rasca não foi, hoje só a dos jovens, foi a de todos aqueles que se sentem asfixiados com a falta de emprego, com maus empregos, a obrigatoriedade de emigrar, impostos elevados, licenciados em Psicologia a trabalhar em Call-centers, contra a injustiça, contra o desgoverno e contra a corrupção, etc.
Pela primeira vez, o meu pai quis manifestar-se. A minha avó também. Sempre trabalharam, são patrões e reconhecem as dificuldades em empregar, as dificuldades dos seus pacientes e o medo de estarem a lutar por um futuro que a sua filha pode não encontrar no país.
Na cara dos jovens vimos emoção. Está na hora de acabar com este desgoverno! - gritava um. O Nuno, o André e o Diogo, pintaram a sua mensagem simples: Queremos um Futuro!!
Vimos pais e mães a comentarem que não sabiam o que fazer. Tantos anos a trabalhar para poder dar uma licenciatura aos meus filhos para nada!
Os mais lúcidos lembraram que A culpa não é do Estado! Nós não queremos que o Estado nos dê emprego! Mas queremos que não destruam a economia portuguesa, porque ninguém pode dar pagar a outrem, se não tem com que comer!
Terão todos estes jovens de limpar casas, ou trabalhar em call-centers, mesmo com uma licenciatura? Será que o problema de todos é terem uma má formação? Serão todos uns preguiçosos, com médias baixas e cursos sem jeito? E se são mal qualificados a culpa é de quem? E porque lhes é (geralmente) mais fácil encontrar emprego lá fora?
Quanto a mim manifestei-me contra a precariedade, contra uma crise que gangrena e que o Governo em vez de curar só remenda, contra um ensino superior desadequado a curto, a médio e a longo prazo, ao mercado de trabalho. Manifestei-me porque amo Portugal e quero viver cá, trabalhar e poder constituir família, um dia. Para sair de casa dos meus pais. Para ser recompensada pelo meu mérito.
Uma avenida cheia, com algumas caras da JSD a distribuir notas de 500€ que reflectiam a precariedade nos salários, responsabilidade de Sócrates. Os Homens da Luta também lá estavam, a dar ânimo ao movimento, mas por mim ele teria alma mesmo sem estes.
Isto num dia, em que o Governo passou por cima dos partidos, ignorou o Presidente da República e apresenta mais cortes, resta perguntar para quando uma moção de censura do PSD ou a dissolução da AR.
Crise política é não ouvir os gritos do povo.