A morte do nuclear?

Em 86, aquando do terrível desastre de Chernobyl, sentenciou-se o fim do uso civil da energia nuclear. Porém, ela sobreviveu por mais duas décadas. Agora, perante a perplexidade das dificuldades com que o Japão se depara no controlo das suas centrais, Alemanha e Suíça anunciaram o fim a programas de extensão de vida de centrais e construção de novas plantas, respectivamente. Na França, o debate sobre a energia nuclear parece querer reacender o que poderá ser utópico para um dos maiores produtores, consumidores e exportadores de energia nuclear do mundo.
Em Portugal, este debate sempre aconteceu de forma quase subversiva. Estes acontecimentos vêm justificar a cautela com que o país sempre debateu o assunto. Aqueles que defendem esta solução energética sofreram estes dias um forte revés. Mas o debate sobre o nuclear não acaba aqui. Uma coisa a crise japonesa vai provocar: o aumento do custo de produção de energia nuclear, desde logo, porque tudo leva a crer que a Europa avançará com regulação - e dura - no sector, desde logo na redução do período de vida das centrais.
Mas é sobretudo importante que se reflicta sobre a forma ultrapassada como continuamos a produzir energia no Século XXI. Hoje regulamos fortemente as condições em que é cozinhado um pão, ou como é tingido um tecido, tudo fruto de uma exigência de segurança e controlo de qualidade impostas por um mercado de consumo cada vez mais exigente e uma opinião pública mais crítica. Porém, continuamos a usar as mesmas refinarias de há tantas décadas para refinar o petróleo e as mesmas centrais para produzir energia. É urgente lançar-se o debate sobre a forma de produção energética. O futuro é, definitivamente a micro-geração e a sustentabilidade local. Uma coisa é certa: a tendência é para o encarecimento progressivo da energia e o Ocidente está pouco preocupado em desenvolver alternativas.