Da Estratégia
Estratégia segundo Chandler é "a determinação dos objectivos básicos de longo prazo (...) e a adopção das acções adequadas e afectação de recursos para atingir esses objectivos."
Factos:
O Primeiro Ministro português foi apresentar e negociar com a Chanceler alemã um novo pacote de medidas de austeridade financeira que pretende implementar no seu país de modo a reduzir o défice das contas públicas, reconhecendo o que foi implementado até então não foi o suficiente. Tendo sido sucedido nas suas negociações regressa ao seu país, anuncia as mesmas, sem antes de tudo isto ter estabelecido negociações com os partidos da oposição, já que governa com maioria relativa no Parlamento, e acima de tudo, não informa o Presidente da República, no ponto de vista da cooperação institucional que deve haver entre os dois órgãos.
Questão:
Ao contrário do que aconteceu com os PEC's 1, 2 e 3, tendo o Governo obtido o apoio necessários para implementar as referidas medidas junto do maior partido da oposição e tendo sempre informado o Presidente da República, o facto de não o ter feito até agora resulta do quê:
Lapso?
Azia pelo discurso proferido pelo Presidente da República?
Incapacidade momentânea?
Aproveitar a promoção de vôos mais baratos para a Alemanha para não aumentar a despesa pública?
Uma potativa resposta:
Com a experiência nestas andanças de Sócrates e Teixeira dos Santos é impossível ter-se tratado de um lapso ou de terem cedido emocionalmente à raiva contra Cavaco.
Sócrates sabe que está no fim da linha, provavelmente assustou-se com o que viu no dia 12 de Março, sabe que a sua popularidade foi definitivamente (e já não era sem tempo) à vida. Logo, é cada vez mais difícil aguentar o barco, barco este que se iria enfraquecer cada vez mais até ao momento derradeiro já esperado do chumbo do OE'2012.
Sendo assim, pretendendo fortalecer o seu mandato como PM, sabendo que não o conseguiria fazer continuando nestas condições (até porque se não sabe governar, sabe ainda menos sem maioria absoluta), pretendeu criar um facto político que leve quanto antes a novas eleições, apanhando desprevenido o PSD e tentanto ainda salvaguardar a réstia de popularidade que tem.
Mas não poderia ser um facto político qualquer, tinha de ser uma questão não material, mas sim formal, ou seja, conflito institucional, de modo a poder afastar o argumento da fraca capacidade de governar, podendo até partilhar as culpas da situação com outros agentes, seus adversários. Assim pode pegar no argumento (falacioso) de que se o PSD não apoia o PEC4 é porque não pensa nos interesses do país. Ou seja, uma argumento que deixa margem de manobra para ser devidamente trabalhado e passar a mensagem que se quer.
Assim quem decide quem vai a eleições é o PS e não o PSD, preparando desde então as próximas eleições antecipadas.
Resumindo do ponto de vista estratégico:
determinação dos objectivos básicos de longo prazo - governar com maior estabilidade, preferencialmente com maioria absoluta
adopção das acções adequadas - fazer cair o governo, podendo imputar esse ónus à oposição, vitimizando-se para recuperar popularidade e ir a novas eleições mais forte enfaquecendo o adversário
afectação de recursos para atingir esses objectivos - criação de um facto político (aparentemente) secundário com origem em decisões políticas que, apesar de impopulares, são supostamente do interesse do país, levando os adversários directos a rejeitá-las, podendo culpabilizá-los de seguida e levar a uma instabilidade política suficiente para suscitar a demissão do governo e convocar-se eleições antecipadas.