Sócrates, mestre do teatro político
Portugal é o seu palco, e a Europa o backstage...
Sócrates negociou durante duas semanas com o BCE e a Comissão Europeia um pacote de medidas de austeridade como contrapartida ao resgate financeiro por parte do Fundo Europeu de Estabilização Financeira. Fê-lo na legitimidade das suas funções, sem que tenha procurado quaisquer condições políticas ou institucionais para que fosse credibilizado e, em última análise, efectivamente aplicado. Tratou-se de puro teatro político que coloca em cheque a imagem do governo português e do próprio país ao nível das instituições europeias.
Em Bruxelas, no dia em que milhares de pessoas desfilavam na Avenida da Liberdade as suas frustrações, encenou uma vitória política na apresentação de um elenco de medidas que é a materialização da capitulação da sua política económica e financeira. O governo, que apostou a sua vida política na romanceada resistência estóica ao pedido de resgate financeiro falhou rotundamente. Perante a iminência da sua morte política, restou precipitar de forma imediata uma crise política. Basta ler os jornais de hoje e o multiplicar de dirigentes governamentais alertando para o risco de insolvência caso se precipite uma crise política e o pedido de eleições de Mário Soares para perceber a estratégia de Sócrates. É cristalina! Até Jorge Coelho falou hoje, não na versão de mestre da malha, mas agora respeitado CEO empresarial...
Perante esta estratégia, Pedro Passos Coelho não tinha alternativa senão comprar esta crise política e precipitar eleições. Porém, neste momento, entenda-se com clareza, elas interessam mais a Sócrates e o seu defunto PS que a Passos Coelho e ao PSD. Sócrates vai poder cavalgar a ideia de que foi Passos Coelho quem precipitou o país para o pedido de resgate financeiro. Porém, Passos Coelho não poderia esperar muito mais. Não é certo o futuro político dentro de dois meses. Ao deixar passar estas medidas seria acusado de derrota política por permitir a aplicação das medidas que rejeitou em Outubro e veria a sua liderança posta em causa internamente.
Vamos, portanto, a eleições. É fundamental que Passos Coelho explique ao país que Portugal já faliu e o responsável é José Sócrates.