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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

PsicoConvidado Ilídio Leite

PsicoConvidado, 05.04.11

“Conhecer a culpa é estrada para a emenda” (Ditado popular)

 

 

Muitos culpam, e bem, a classe política pela calamitosa situação que vivemos. Nestes “curtos” anos do pós 25 de Abril estamos, uma vez mais, à beira da bancarrota e de mais um pedido de salvação externa. Para além da dívida, como se não bastasse, vivemos num premente (e permanente) estado de convulsão social. E não há dúvidas que foram as opções políticas (isto para não entrar na parte das clientelas e/ou dos “boys”) da grande maioria dos sucessivos governos que nos arrastou para este “status quo”. Porém, sendo certo que é fácil apontar as evidências, ainda mais na parte em que podemos atirar responsabilidades para terceiros, cumpre afirmar, muito claramente, porquanto também é uma evidência, que a culpa pelo actual estado de coisas é tua, a culpa também é nossa.

 

A culpa é daqueles que subvertem o sistema, daqueles que não passam facturas pelos serviços que prestam. Mas, espera, a culpa também é tua quando não pedes factura. E ainda mais culpado és quando pedes para não passarem a factura e fazerem o “desconto” do IVA.

 

A culpa é daqueles que requerem subsídios que não precisam, daqueles que pensam que o dinheiro do Estado não é de ninguém. Mas não és menos culpado se chumbares na faculdade para andar na “festarola”, pois vais obrigar o estado a investir mais um ano na tua formação.

 

A culpa é daqueles que criam falsos recibos verdes e escravizam estagiários. Mas a culpa não deverá morrer solteira perante aqueles que clamam por um emprego sem querer ter um trabalho. A culpa é tua por estares acomodado num emprego para a vida.

 

A culpa é do Estado? É evidente! Mas tu és culpado por estares a espera que o Estado resolva, aja e faça tudo por ti! És culpado por pensares que os problemas do País se resolvem por decreto emanado pelos senhores do Terreiro do Paço, o qual, fundamentado numa vontade mágica e divina, criará emprego, crescimento económico, etc…

 

A culpa é dos “Boys” que infestam a máquina do Estado? Sacanas! Mas o que tu querias mesmo era ter um tacho como o deles. Aliás, confessa lá que ninguém ouve, quantas vezes já pediste um “favorzito” ou uma “cunhazinha”?

 

A culpa é da incompetência e desqualificação (de pelo menos parte) da classe política? Claro que sim! Mas também és culpado por dizeres que a política é uma coisa suja, uma cambada de gatunos e, desta forma, pela calúnia cega e generalizada, afastares da política os honrados, os sérios e os competentes, que, no entanto, temem serem confundidos com os demais. Aliás, não te esqueças que a culpa também é tua quando, pela tua inércia, deixas que os outros decidam por ti. Mas, quando tens hipótese decidir, se preferes acreditar numa bela cantiga em vez de enfrentar o fado da realidade, estás muito longe de poder lavar as tuas mãos…

 

A lista de exemplos poderia prolongar-se indefinidamente… Porém, quero extrair algumas conclusões desta ladainha…

 

Sá Carneiro dizia que a democracia é um regime difícil e exigente. Se o é para os políticos, também é para os cidadãos. Será que os Portugueses estavam preparados para cumprir com as exigências da democracia (Nem sequer falo da grande fatia dos políticos, pois a resposta parece-me evidente!)? Em minha opinião, não. Não apenas enquanto eleitores, mas principalmente enquanto cidadãos. Existe em Portugal um profundo deficit de cidadania. Afirmar que a classe política é culpada por tudo é uma verdade evidente e fácil. No entanto, será sempre uma meia verdade (ou incompleta), pois todos temos a nossa quota, basta pensarmos nas nossas acções quotidianas. E temo que, ainda que a classe política mude (de sujeitos e políticas), enquanto não houver uma consciencialização da deficiente cultura de cidadania das pessoas e, consequentemente, uma verdadeira mudança de mentalidades, o País não conseguirá atingir o seu verdadeiro potencial.

 

PsicoConvidado Ílidio Leite

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