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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Vidas com sentido...

Elsa Picão, 06.05.11

 

Há uns meses a nossa Elisabete fez uma pausa no Psico para dar inicio a uma outra viagem.

Destino: Moçambique.

Plano de viagem:  oferecer um ano de vida ao serviço dos outros.

Foi com alegria que hoje recebi noticias suas e o testemunho que aqui partilho.

 

2011 é o Ano Europeu do Voluntariado. Porém, ser-se voluntario, estar atento e disponível para os outros não é uma questão de calendário, é uma forma de estar na vida. É saber que na diferença de um olhar está um Mundo por encontrar, e não o perder de vista.

Em Moçambique como na porta vizinha à nossa existem vidas que precisam de ser levadas pela mão para que (re)encontrem sentido.

 

Nesta viagem que começou há cinco meses e que transporta já tantas estórias, tenho-me sentido sempre perto do essencial.

O essencial que vive em todas as pessoas, que nas Comunidades me dão esse enorme privilégio de partilhar a sua vida comigo, todas as pessoas que me fazem entrar pelas suas “machambas” e me explicam com a sua infinita paciência os tempos da terra, que são os seus tempos e dão a cada instante “ tantos mundos novos” ao meu mundo.

Que está em todos os “quintais” onde permaneço e onde por entre cabritos, galinhas e maçarocas, falamos do que precisam e do procuram, do que desejam: “ Se houvesse mais um poço de água na aldeia, já não teriamos que estar quatro horas à espera de manhãzinha”… “ Havia tantas coisas que gostava que existissem na comunidade! Então e qual era a mais importante? Que chegasse luz… Então porquê? Para haver escola à noite… Queria estudar e de dia estão lá os meus filhos, não pode ser”

Que encontro em todos os monitores, que em comunidades profundamente isoladas e com tantos contrangimentos para as suas vidas, abrem todas as manhãs a sua escolinha, porque acreditam que isso é verdadeiramente importante para as “suas” crianças “ antes de haver escolinha, criança ficava só sentada, não tinham estes conhecimentos que lhes abrem os olhos”. Em todos os Supervisores, parceiros privilegiados, cuja capacidade de trabalho e entusiasmo me fazem acreditar que há ainda mesmo muitos frutos para colher. Às crianças, que dão sentido ao trabalho dos tantos que colaboram com este Projecto e a quem as Escolinhas permitem tempo e espaço para serem crianças.

O essencial que sei que habitaem Ti. Tuque me deste a confiança de partir, de me colocar à disposição. Tu que dás sentido aos meus passos e estás presente em todos os caminhos que faço por dentro e por fora.

Num ano em que abraçamos esse desafio tão dificil, quanto estimulante, de procurar uma direcção que permita a sustentabilidade das Escolinhas Comunitárias do Niassa, o meu olhar começa a ser de dentro e não de fora. Um olhar que se funde com todas as vidas com quem se cruza, um olhar que se deixa tocar e transformar.

Um olhar consciente que só o que se dá é para sempre e que acredita que o verdadeiro desenvolvimento se constrói com as pessoas e não para as pessoas.

Porque é a partir dos seus desejos e das suas necessidades que se percorrem os seus (novos) caminhos. Porque é nas suas vidas, que moram as dificuldades, mas é também aí, sempre aí, que moram as possibilidades…

Por aqui os dias são ganhos assim. Em todos os momentos em que conseguimos estar inteiros com as pessoas.

Porque aqui, os dias são ganhos com o essencial.

 

Elisabete Oliveira, Moçambique 2011

 

 

 

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