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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Carta a um ex-ministro das Finanças

Essi Silva, 07.05.11

(eis um Ministro que até tem razões para sorrir)

 

 

Exmo. Sr. Ministro Jyrki Katainen,

 

Escrevo-lhe como portuguesa, embora seja também finlandesa. Admito: escrevo com uma raiva profunda em mim. Há de passar, mas por enquanto irrita.

Dia sim, dia não, tem-se discutido o apoio da Finlândia ao meu outro país, Portugal. Por um lado, todo o meu patriotismo português, a terra que me criou, faz-me pedir que nos ajude. Por outro, não tenho argumentos nenhuns que justifiquem essa ajuda.

Se é verdade, que em tempos mais gloriosos, Portugal teve um papel de relevo no mundo e até apoiou em víveres a jovem Finlândia, hoje não é mais que uma antiguidade envelhecida que ninguém quer restaurar e que continua a ser comida pelo bicho até se transformar em pó.

Em Portugal, tenho colegas licenciados, advogados, médicos, engenheiros e afins, que não sabem falar e muito menos escrever.português. A primeira vez que o finlandês surgiu em forma escrita data do séc. XVI. Por essa altura Camões já escrevia Os Lusíadas, que não foram de todo a primeira publicação escrita da língua portuguesa mas um dos seus apogeus. Por essa mesma altura Portugal já tinha palmilhado o mundo. 

Ainda assim, nos dias de hoje, o analfabetismo não foi radicado. Porque por mais competências que os licenciados tenham, de que serve se nem a sua língua mãe conhecem? E se devemos apostar no inglês, como é que se justifica que jornalistas, políticos e até o primeiro-ministro sejam uma nódoa a falar inglês?

 

Na Finlândia, não é um drama não se ser licenciado. Porque mesmo sem formação superior, os cursos profissionais dão a oportunidade de se ser verdadeiramente bom como secretário, mecânico, ladrilhador, canalizador, entre outros. Trabalho não é deshonra.

Aos 18/19 sai-se de casa dos pais. Se for caso disso casa-se, trabalha-se e ainda assim tira-se um curso. Com trabalho tudo se atinge.

Os finlandeses vivem por vezes mal para as suas capacidades, mas pelo menos poupam.

 

Em Portugal, seria muito pouco provável termos um Ministro das Finanças de 39 anos. Mas a idade não o tornou menos competente, muito pelo contrário. Em 37 anos de democracia, Portugal não se conseguiu governar sozinho. Emprestar dinheiro não nos vai salvar, muito pelo contrário. Vivemos acima das nossas capacidades, continuaremos a fazê-lo enquanto cada agregado familiar tiver pelo menos dois automóveis, enquanto se for almoçar fora ou jantar fora porque dá trabalho cozinhar em casa, enquanto os altos cargos da Administração Pública e o Governo tiver carros novos e de luxo ano sim - ano sim, etc. etc. Enquanto simultâneamente um deficiente motor em Portugal não tem infra-estruturas para se movimentar, muito menos autonomia, ou equipamentos gratuitos, cuidados gratuitos, medicamentos a custos simbólicos, como na Finlândia.

 

Com que argumentos podemos pedir uma ajuda, que não é nem mais nem menos que um empréstimo à Finlândia? Não podemos continuar a pedir que os portugueses paguem a factura de estádios de futebol, de rotundas, mais auto-estradas e TGV's. E dos juros brutais com que vendem o país a retalho. Não podemos continuar a exigir que as empresas sejam asfixiadas por mais impostos e contribuições que as impedem de contratar e forçam a despedir. A culpa não é de um código de trabalho rígido. A culpa é do peso oneroso que recai sobre as empresas, sobre quem contrata.

E chega de atirar areia para os olhos, de permitirem que os socialistas tenham razão quando são responsáveis por esta farsa. É hora de cair, de passar de novo fome como vocês passaram, como lutaram muitas vezes sozinhos, há pouco tempo até, para valorizarem o que é nosso. Um lar, comida na mesa, trabalho em vez de emprego.

É hora do povo português acordar. E só pode fazê-lo se o sistema implodir. Enquanto não se chegar ao fundo do bolso, os olhos continuarão fechados.

 

É hora de os abrir.

Se a Finlândia quiser ajudar, que ajude com ideias e não com dinheiro. É altura de deixar-se de pescar pelos portugueses e  dar-lhes uma cana para aprenderem a pescar sozinhos.

 

 

P.S.- Dedicado à CM de Cascais - Se acham que os finlandeses são ignorantes ou analfabetos, desenganem-se. A Finlândia não fica na América do Norte ;) E também não é com factos históricos maioritariamente centenários que convencem os finns!

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