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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

A carta do governo à troika

Rui C Pinto, 18.05.11

Caros socialistas e demais concidadãos iludidos pela falta de vergonha de José Sócrates e sua trupe:

 

FORAM ENGANADOS! 

 

Pois é, nós já o sabíamos, mas agora podem ler no papel, escrito pela própria pena do Governo e do Partido Socialista a verdade que vos têm omitido e desmascarar as mentiras que vos têm repetido. 

Como sabem, o governo de José Sócrates negociou com o FMI, BCE e CE um memorando de entendimento que esteve na base da aprovação do pedido de resgate financeiro ao país. Pois bem, o memorando já é conhecido há algum tempo, o aventar disponibiliza-o aqui. Agora o aventar publicou a carta enviada pelo governo aos avaliadores externos aqui. Um verdadeiro serviço público por parte do aventar que os meios de comunicação social públicos, encarregues desse bem maior que é o serviço público, não souberam nem puderam fazer.

 

Quando li o Programa Eleitoral do Partido Socialista senti-me alheado da realidade. Senti que existiam dois países: o do governo e do Partido Socialista e o dos restantes portugueses. Afinal não! Afinal o país é o mesmo para todos! Afinal o governo e o Partido Socialista sabem em que país vivem, conhecem bem as suas dificuldades, sabem bem o que provocou a crise que vivemos e sabem bem que programa é preciso aplicar para resolver os problemas do país. Infelizmente, não têm a coragem para dizê-lo aos seus eleitores. Disponibilizo aqui alguns trechos daa carta escrita pelo governo à troika (que não invalida a sua leitura integral):

 

"Os indicadores de Competitividade têm sofrido, o crescimento económico tem sido anémico e o défice em conta corrente está em 10 por cento do PIB (...) A crise mundial expôs a fraca posição orçamental e financeira de Portugal com a dívida pública em cerca de 90 por cento do PIB no final de 2010 e a dívida do sector privado em cerca de 260 por cento do PIB. Os bancos que financiaram esta acumulação de dívida têm agora o maior rácio de empréstimos sobre depósitos na Europa."

 

Mas não ficamos por aqui, caros concidadãos. É que reparem que o governo sabe afinal por que motivo pediu a ajuda externa! Afinal não foi o chumbo do PEC4, imaginem...

 

"É esperado que o crescimento se contraia cerca de 2 por cento em 2011 e 2012 por conta da necessidade de consolidação orçamental, efeitos na confiança geral que levaram ao pedido de apoio financeiro internacional e aos ajustes no sistema bancário."

 

Imagino que tudo isto seja traumático! Ver assim escrito no papel - e pela própria pena! - o oposto do que se diz em frente às camaras deve ser duro! Afinal não foi o PEC4, não foi a irresponsabilidade da oposição! Afinal foi a certeza da recessão económica e o esgotar do crédito dos bancos... 

 

Ainda assim, morta e enterrada a cantilena da responsabilidade da crise, é preciso também matar-vos as ilusões. Nada do que Sócrates, o seu governo e o Partido Socialista vos promete é verdade! Nada é para levar a sério! Senão vejamos:

 

"Vamos suspender a execução de todas as PPP, novos e grandes projectos de infra-estrutura, até que uma avaliação minuciosa da sua viabilidade seja concluída."
"Do lado da receita, o foco é aumentar a quota dos impostos de consumo e reduzir privilégios fiscais"
"A lista de bens e serviços sujeitos a uma redução de valores do IVA será revista em 2011."

 

E eis uma das partes que mais vos custará saber: afinal o PSD não tem uma agenda irresponsável e neo-liberal. Afinal o governo e o Partido Socialista também querem ir mais longe no plano de privatizações! Leiam com os vossos próprios olhos: 

 

"Pretendemos acelerar o nosso programa de privatizações. O plano já existente, que se estende até 2013 [tinha: elaborated through 2013], abrange os transportes (Aeroportos de Portugal, TAP e ramo de mercadorias da CP), energia (GALP, EDP e REN), comunicações (Correios de Portugal) e de seguros (Caixa Seguros), bem como uma série de empresas menores. (...) No entanto, estamos comprometidos a ir ainda mais longe, levando a cabo uma completa e rápida alienação das acções do sector público na EDP e na REN, e esperamos que as condições do mercado venham a permitir a venda destas duas empresas, bem como da TAP, até ao final do 2011. Vamos identificar, no momento da segunda avaliação, mais duas grandes empresas para privatização até ao final de 2012. Um plano de privatização actualizado será preparado até Março de 2012."

Continua na saúde... 

"Uma ampla reforma irá melhorar a eficiência e eficácia no sistema de saúde. Entre outras reformas, as taxas moderadoras serão aumentadas em Setembro de 2011, indexadas à inflação no final de 2011, e as isenções serão substancialmente reduzidas até Setembro de 2011."

E afinal o que o PSD propõe para a Caixa Geral de Depósitos não é um ataque e uma irresponsabilidade:

"O banco da CGD deverá aumentar o seu capital para os novos níveis exigidos a partir de recursos internos do grupo e melhorar a gestão do grupo. Isso incluirá uma agenda mais ambiciosa com vista à já anunciada venda do ramo de seguros do grupo, um programa para a eliminação gradual de todas as subsidiárias não nucleares e, se necessário, uma redução de actividades no exterior."

 

Cereja no topo do bolo: o que se diz no plano sobre a famosa TSU? 

"Um dos principais objectivos do nosso programa é incrementar a competitividade. Isso implicará uma redução significativa das contribuições patronais para a segurança social. Esta medida será totalmente calibrada aquando da primeira revisão. As medidas de compensação necessárias para garantir a neutralidade fiscal poderão incluir a alteração da estrutura e das taxas de IVA, reduções adicionais das despesas permanentes e aumento de outros impostos que não tenham efeito adverso na competitividade. (...) Embora a proposta possa ser implementada em duas etapas, um primeiro passo ousado será implementado no contexto do orçamento de 2012."

Esta exposição não pretende melindrar ninguém. Pretende apenas clarificar uma estratégia. A estratégia eleitoral de José Sócrates e do Partido Socialista para estas eleições. A estratégia não podia ser mais clara! O governo e o PS estão cá para proteger o país do suposto programa neo-liberal do PSD. Programa esse que o governo pretende, nas costas dos eleitores, aplicar. De forma escandalosamente clara José Sócrates vem mentindo desde o início desta pré-campanha. Os factos desmentem-no. Aquilo que escreveu e assinou em carta à troika prova que tem mentido todos os dias. E é isso que pretende fazer durante mais quatro anos. Mentir, mentir, mentir! É este o programa de José Sócrates e do Partido Socialista. E a desfaçatez é tal, o insulto à inteligência dos portugueses é tal e, sobretudo, o desprezo pelos militantes do Partido Socialista é tal que no primeiro capítulo do seu programa eleitoral, na página 11, se afirma o seguinte sobre a agenda política do Partido Socialista:

"Esta agenda é de todos conhecida. É transparente, é coerente, é assumida. Não cultiva a ambiguidade, não esconde os seus objectivos, não se disfarça."

São os portugueses, mas sobretudo os militantes socialistas, que devem exigir transparência e sobretudo respeito a quem todos os dias mente, rejeita responsabilidades e promete ilusões. 

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