Europa?

O destino da Europa é incerto. Não se lhe adivinha um futuro próspero. Se há sentimento que, hoje, une todos os europeus é o receio do desmoronamento do projecto europeu. O projecto europeu sempre foi construído numa base de cautela e até cepticismo, como ficou bem evidente na novela em torno da Constituição Europeia e seus referendos. A construção europeia foi-se fazendo, apesar destas cautelas nacionais, numa lógica de Maria vai com as outras. Mas uma Maria que vai com as outras, nunca vai convencida...
Este modelo de construção europeia favoreceu sempre a lógica dos interesses nacionais no alargamento a novos mercados, em detrimento das reformas políticas necessárias ao desenvolvimento de uma união política. Hoje, o declínio da Europa pode também ser apontado aos receios nacionais do fantasma federativo de Bruxelas. Não se criaram as condições para que haja uma política económica que combata as desigualdades entre Norte e Sul, entre Este e Leste, entre centro e perifieria, que promova um projecto comum que se defina numa verdadeira estratégia de identidade com os valores transversais à Europa como o Conhecimento ou a Cultura. Para lá do caminho de responsabilidade que cada país deve e tem que fazer, a União Económica não sobrevive se não houver mais redistribuição de riqueza . Sim, ouviram bem, mais redistribuição da riqueza ao nível Europeu. Governo Económico? Federação? Orçamento comunitário reforçado? Não sei. Arranjem a solução política que convier a todos ou, à luz do modelo de construção europeia: o que menos melindrar a todos. A actual não serve ninguém e está a segurar-nos por um cordel à beira do precipício.
Por cá, já há economistas da fina flor do regime a defender o uso das verbas comunitárias para pagar a dívida. Errado. As verbas comunitárias devem ter filosofia de investimento por forma a combater assimetrias estruturais. Mas numa situação em que os países se vêm a braços com uma crise financeira e sem capacidade de se financiarem nos mercados é lógico que não lhes seja exigida a comparticipação nacional. Esse é um caminho. O da intervenção comunitária em projectos de desenvolvimento, o outro é o dos mecanismos financeiros que permitam a partilha de risco. Convenhamos: o TGV foi uma incrível irresponsabilidade de Sócrates e Zapatero que nos levaria a mais endividamento, mas teve a benção de Merkel e do CEO da Siemens... O endividamento dos países da periferia não pode ser visto como péssimo quando visa o investimento na qualidade de vida das populações e óptimo quando promove as exportações de Alemanha e França. A única forma de por cobro a esta dualidade de critérios, é a partilha de risco no crédito. Por isso acredito que a criação de eurobonds - ou qualquer outra solução financeira que tenha o mesmo objectivo - é fundamental para que se comece a olhar para o investimento de dinheiros comunitários como uma verdadeira oportunidade de acrescentar valor ao tecido económico, e não como uma lógica de interesses nacionais. No meu entender, é disso que se trata quando se pede mais solidariedade à Europa. É pedir um efectivo commitment com o projecto de construção de uma verdadeira União económica, financeira e social.