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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Governar o desgoverno

Rui C Pinto, 02.07.11

 

Temos governo. Com equipa e programa definidos. Os ministros foram já avaliados até à exaustão pelo seu curriculum, personalidade e experiência política. É o momento em que a política mais se aproxima do futebol na avaliação do plantel. Percebo, naturalmente, o interesse mediático, ainda que desconsidere profundamente a utilidade política do exercício. 

 

Feita a discussão dos nomes, faz-se a discussão do programa. Quanto à discussão premonitória de reformas, interessa também ser cauteloso. Senão vejamos: ontem, no Expresso da meia-noite, Daniel Proença de Carvalho afirmava que as medidas que Paula Teixeira da Cruz anunciar para a Justiça ser-lhe-ão contraproducentes porque é impossível reformar a Justiça. Dizia ele que a reforma da Justiça depende de uma série de órgãos independentes do poder político que só responderiam (eventualmente, quem sabe, talvez um dia!) perante uma forte legitimidade política, como a que emana do Presidente da república. Ora, a mim que não sou nenhum Excelentíssimo Senhor Doutor Engenheiro as palavras de Proença de Carvalho soam-me tal e qual as de Carvalho da Silva, sendo que o primeiro as anuncia envergando um elegantíssimo azul-cobalto e tom catedrático e o segundo as grita todo desfraldado, desgrenhado e irritado. Ora, o governo agora em exercício pleno de funções legitimado democraticamente por todos nós para aplicar uma série de reformas que entendemos necessárias ao país, não assusta muito os interesses corporativos que preparam já o embate dessa tesão reformista. Não é de agora. Seja na Educação, na Saúde, na Justiça, não interessa a cor do governo, a maioria no Parlamento, ou a dureza do ministro, tudo esbarra na blindagem das corporações. 

 

Dito isto, interessa-me muito mais a política financeira, porque é aí que reside o efectivo poder do governo: na gestão das contas públicas. É aí que se joga o nosso futuro imediato. Foi pela exigência financeira que vivemos que se fizeram eleições e que se deu uma maioria confortável à direita. É aí que o governo não pode falhar. E, por isso, apoio o imposto extraordinário sobre o subsídio de Natal. Mas estou preocupado. O imposto gera apenas 800 milhões de euros quando o governo precisa de mais de 2000 milhões, estando os outros 1200 milhões dependentes de demasiadas variáveis. Este era o momento para agir. Este era o momento para tomar as medidas necessárias para garantir inequivocamente que cumpriremos a meta orçamental imposta para este ano. Porque é indispensável fazê-lo e a situação do país assim o exige, independentemente do dano político que possa custar ao governo e ao primeiro-ministro. Penso que se deveria ter ido mais longe neste imposto. Aqui fica um momento de lucidez de Mário Soares, que foi capaz de fazer o que era preciso fazer noutro momento de exigência nacional. 

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