Até já Diogo!
Diogo Vasconcelos deixou-nos.
Foi um pioneiro e um visionário.
Foi Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Católica – Porto e fundador da Federação Académica do Porto que viria a ser a maior do país.
Oriundo de uma Universidade pública não estatal conseguiu ganhar seguidores e apoiantes e ser Presidente durante os 3 primeiros mandatos, num universo eleitoral em que a maioria dos votos pertencia às Faculdades da Universidade do Porto.
Foi o primeiro dirigente associativo em Portugal a defender a introdução de propinas no ensino superior público. Na altura foi muito criticado entre os seus pares, mas teve razão e hoje, mais do que nunca, sabemos que sim.
Juntamente com Rui Marques, ajudou a organizar a Missão Paz em Timor e o Lusitânia Expresso, o barco que os navios de guerra indonésios não deixaram levar flores aos timorenses, mas que pôs Timor nos media internacionais e que deu um contributo para a libertação e autodeterminação dos nossos irmãos timorenses.
Encontrei-me na Expo de Sevilha de 1992 com o Diogo que liderava uma delegação da Federação Académica do Porto e fizemos uma manifestação pacífica à porta do pavilhão da Indonésia. Os seguranças indonésias identificaram-nos como os organizadores e a polícia espanhola acompanhou-nos à porta do recinto. Senti um orgulho muito grande em estar com o Diogo naquele momento por aquela causa. Passados 10 minutos entrámos na Expo por outra porta e com a minha credencial de jornalista fomos ao centro de imprensa de onde o Diogo enviou uma crónica por telefone para o Jornal Público com que colaborava.
Diogo foi das primeiras pessoas a pronunciar a palavra Empreendedorismo em Portugal e como uma pessoa de acção que é fundou e dirigiu a Revista Ideias & Negócios, uma revista que deu a conhecer as empresas mais empreendedoras e inovadoras do país, várias delas que viriam a tornar-se casos de grande sucesso.
Foi fundador da UMIC Unidade de Missão Inovação e Conhecimento, tendo tido um papel importante na evolução digital e tecnológica da sociedade portuguesa.
Foi Vice Presidente da Comissão Política Nacional do PSD no tempo de Durão Barroso e mandatário digital das duas campanhas vitoriosas de Cavaco Silva. Na primeira campanha eu estava em Londres e o Diogo convidou-me para Mandatário da Geração Global, tendo que recolher depoimentos de portugueses de mérito pelo Mundo. Foi uma campanha alucinante, o Diogo actualizava o site cada 5 minutos quase 24 horas por dia.
Foi Presidente da Associação Portuguesa de Telecomunicações.
Organizou e ajudou a organizar muitas dezenas de conferência, seminários em toda a Europa. Estive com ele na Alemanha, em França, Inglaterra em alguns deles e foi um privilégio.
O Diogo gostava de política, mas não tinha muito tempo para as “percas de tempo” e “politiquices”. Era um homem de acção e isso às vezes não joga com a inércia da política.
Era desde 2007 Director da Cisco baseado no Reino Unido e viajou por todo o Mundo.
Quando acreditava numa causa o Diogo era persistente e racional e ia sempre até ao fim. Vencia quase sempre sem fugir às regras do jogo.
Tinha muito amigos e mantinha contacto constante com um networking de cerca de 2000 pessoas. É fantástico como era sempre tão rápido a responder a qualquer e-mail ou solicitação.
Diogo não viveu os 43 anos do bilhete de identidade. Viveu muito mais. Por cada viagem que uma pessoa normal faz o Diogo terá feito 10, por cada livro lido o Diogo terá lido 10 e que bem ele partilhava o conhecimento com os amigos. O Diogo era o verdadeiro networker, um campeão a facilitar, partilhar, delegar informação e conhecimento com os outros.
Numa festa de anos em minha casa com cerca de 15 pessoas o Diogo chegou a falar mais de uma hora seguida sem interrupções. E todos beberam as palavras dele.
O Diogo partiu como viveu: depressa. Deixa a mulher, Paula, os irmãos Paulo e João, o Pai, a Mãe (a Tia Licas) e os amigos. Todos ficamos mais pobres e quem perde mais é Portugal.
Até já Diogo!
Miguel Braga