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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Mind detox plan

Rui C Pinto, 10.07.11

Anda por essa Europa fora uma ira tremenda em relação às agências de rating, por causa do downgrade à dívida pública portuguesa por parte da agência Moody's. Em Portugal o fenómeno foi do domínio do paranormal. Houve uma inverosímil inversão de argumentos no espectro político-partidário. É estupendo! Algo extraordinário, assim ao nível da inversão dos polos magnéticos do planeta... Os doutos economistas do burgo inverteram o discurso em relação às agências de rating em apenas dois meses. O próprio presidente da república que há poucas semanas avisava para a ineficácia do discurso contra as agências de rating lidera, agora, o protesto. 

 

O que mudou desde há poucas semanas? Nada. Rigorosamente nada. Do ponto de vista dos mercados financeiros a atitude da Moody's é obviamente justificada. Poder-se-á apenas questionar o timing da medida. De resto, no que respeita ao plano europeu de resgate financeiro, tudo se mantém inalterado, a não ser a maior determinação política em aplicá-lo: um plano que terá consequências recessivas na economia e por consequência dificultará a capacidade do país honrar as suas dívidas. Não há milagres! Foi aliás a necessidade de aplicar um plano de austeridade e reforma financeira que levou o país a procurar a ajuda externa e a afastar-se do financiamento directo nos mercados. Acresce à nossa situação económica a proposta europeia que convida os credores a participar no prejuízo do resgate. Ora bem, haverá alguém que possa estranhar a incerteza na compra de dívida portuguesa por parte dos investidores, e bem assim, a acção das agências de rating? Não pode haver, a não ser por um apaixonado apelo patriótico que não resiste a alguma ponderação. Se é este o caminho que a Europa quer tomar, é bom que se fale com verdade e se assuma que Grécia e Portugal não regressarão aos mercados em 2013 e que a assistência financeira se prolongará no tempo - quem saberá por quanto? - com custos reais aos contribuintes europeus e à soberania dos países assistidos.

 

Do ponto de vista intelectual a indignação é, para além de estulta, condenável. Porque condiciona a acção política. O que grande parte dos economistas da direita portuguesa fizeram esta semana foi abdicar da sua razão e razoabilidade em função de um vago comando da política de Bruxelas. 

Ora, o problema europeu é político. Se estamos sob ataque, esse ataque é consequência da inexistência de uma política económica e financeira europeia. Isto explica a irritação dos dirigentes alemães ao downgrade à dívida pública portuguesa. Reagiram com agressividade à Moody's, porque sabem que a única forma de acalmar os mercados é uma garantia europeia às dívidas dos países periféricos, e isso significa desde logo onerar os contribuintes alemães. Assim, o discurso que agora grassa por toda a Europa de vitimização em relação a um ataque por parte da finança norte-americana ao Euro é, em boa verdade, pura intoxicação intelectual. E é, também, uma aprova de fraqueza. A assumir-se um ataque especulativo desta magnitude, terá que assumir-se que a solução para esse ataque é necessariamente política e, assim, depende exclusivamente da Europa.

 

Já aqui o tenho dito. O problema da Europa é a própria Europa. Não estamos à altura do momento. A única solução para a crise de dívida em que a Europa está mergulhada e que ameaça a estabilidade da zona euro é mais Europa: mais integração política e económica. A gritaria contra os mercados é pura adrenalina. Eles fazem o seu trabalho. A Europa tem de começar a fazer o seu. 

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